terça-feira, 11 de janeiro de 2011


1968

Em 1968, o mundo pegou fogo em todos os sentidos, não só no figurado. Esse ano mítico incendiou corações e mentes, explodiu em canções, filmes, passeatas, revoluções e guerras, nos campos de batalha e nas ruas, nos palcos e nas telas, na política, no imaginário e no comportamento das pessoas.Um frêmito percorreu o planeta, foi, como se disse naquela época, um “êxtase da História”.
Talvez o emblema maior dessa ebulição tenha sido o maio francês, como tudo o que ocorreu naquele mês em que os estudantes viraram Paris de cabeça para baixo, retirando as pedras do chão com as quais abalaram simbólicamente e literalmente o governo do lendário general De Gaulle, herói da guerra e monumento nacional. Anárquicos e utópicos os estudantes franceses contestaram todas as instituições, da escola ao princípio de autoridade, das relações familiares as sexuais, das roupas corte de cabelo. Além das barricadas, dos postes arrancados e dos enfrentamentos com a polícia, que causaram centenas de feridos, “les événements de mai” foram também uma guerra verbal. Nas paredes e muros, os jovens escreveram suas palavras de ordem e seu ideário: “É proibido proibir”. “A imaginação no poder”, “Seja realista, exija o impossível”. Porque, para eles, nada era impossível, das utopias as aventuras espaciais. O sonho de maio francês espalhou-se e uma onda de protestos varreu outros países do Ocidente.
Na Checoslováquia, a Primavera de Praga, um anseio de “socialismo com face humana”, acabou esmagada pelos soldados soviéticos. A resistência foi heróica e românica, com jovens enfrentando os tanques de peito aberto ou arrancando as placas das ruas para desorientar os invasores. Os protestos de rua perpassaram a Europa e chegaram até o Oriente.
No Japão, as manifestações estudantis e a repressão policial foram especialmentes violentas. Os ventos da contestação atingiram igualmente as Américas, de alto a baixo. Nos Estados Unidos, o movimento dos direitos civis de Martin Luther King, por um lado, o Black Power, por outro, e os hippies por toda a parte propondo sexo, drogas e rock’n’roll, agravaram a crise provocada pelo fracasso das tropas americanas no Vietnã.
No campo artístico, Janis Joplin, Jimni Hendrix, Bob Dylan e Joan Baez funcionavam como os acordes dissonantes, fazendo coro a subversão sonora que vinha de fora com os Beatles e os Rolling Stones. Essa misteriosa sincronia, que juntava jovens de nações e sistemas tão diferentes em torno de anseios e ideias comuns, se manifestou de maneira particular em países da América Latina, como o México, onde a repressão policial produziu um sangrento espetáculo de violência coletiva.
No Brasil, uma ditadura militar que se instalara em 1964 canalizou contra ele a rebeldia e a resistência dos estudantes. Em lugar da “sociedade de consumo”, do “sistema”, os jovens daqui tinham um inimigo mas concreto, que censurava, prendia e passou a torturar e matar. O ano que se caracterizou por memoráveis manifestações de rua, acabou com um sinistro ato, o AI-5, que cancelou todas as liberdades públicas. Nem por isso, os jovens daqui e de outras partes deixaram de lutar por seus sonhos e utopias, alguns dos quais a humanidade realizaria em seguida, como a odisseia no espaço que foi a conquista da Lua.

Do livro de Zuenir Ventura, “1968, o Ano que Não Terminou”.



Imagens do cartaz da esquerda p/direita: 01-AI-5; 02-Augusto Boal; 03-Caetano Veloso; 04-Chico Buarque; 05-Ferreira Gullar; 06-Gilberto Gil; 07-Bombas de Napalm Vietnã; 08-Janis Joplin; 09-Jimi Hendrix; 10-Joan Baez e Bob Dylan; 11-Vladimir Herzog; 12-Jose Celso Martinez; 13-Estudantes em protestos nas ruas de Paris; 14-Mather Luther King; 15-A foto considerada marco que mudou e virou a opinião pública americana sobre a Guerra do Vietnã; 16-Uma Odisséia no Espaço (filme); 17-Movimento Hippie, a revolução dos costumes sobre as lentes do Hair; 18-The Beatles; 19-Revolução estudantil, maio 1968 ruas de Paris; 20-Manifestação popular R.Janeiro contra ditadura; 21-Homem na Lua; 22-Passeata conta a ditadura no R.Janeiro em junho de 1968- Da dir. para esq. Carlos Scliar, Clarice Lispector, Oscar Niemayer, Glauce Rocha, Ziraldo e Milton Nascimento; 23-Plinio Marcos; 24-Primavera de Praga, 25-A passeata dos 100 mil em 1968, manifestação popular de protesto conta a ditadura no Brasil.

A ÚLTIMA UTOPIA

Podemos pregar paz e amor, protestar contra as guerras, contra o racismo, clamar pelos direitos civis, podemos exigir direitos iguais às mulheres, respeito aos homossexuais, podemos incendiar as ruas em busca de nossos direitos e gritar contra o poder e suas situações indesejadas. De 1968 até hoje se passaram 43 anos e este senso crítico que incendiou uma geração bem que poderia ter um número maior de adeptos nos dias de hoje, necessitamos de opiniões mais reinvidicativas e que não fiquem alheio a tantas situações.

O planeta sofre uma série de problemas causadas pelo homem: poluição, queimadas, pescas predatórias, guerras e sua ganância de lucro a qualquer custo, o poder não necessita mais de repressão, políticos podem ser corruptos, roubar, aumentar seus salários ao bel-prazer, contando ainda com a complacência e a parceria da justiça. Houve uma influência e uma manipulação muito forte pela mídia e o consumo, as músicas foram capitalizadas, as artes muitas vezes é uma ópera bufa, todo tipo de asneira agora vira sucesso e o ridículo virou “celebridade” (palavrinha infecta). Perdemos muito do senso crítico.

Hoje temos o mundo diante dos nossos olhos através da internet, um instrumento poderoso que é usado quase que exclusivamente para mostrar basbaquices e “vantagens” com a intenção de aparecer a qualquer custo, e tristemente se tem lucro com isso, pois, a massa de emergentes formada pela plebe do mau gosto, despolitizada e desinformada, paga por isso. Sendo assim, o que era para ser uma grande tecnologia, acaba sendo transformada num moto-contínuo da imbecilização. Salva-se uma minoria que acreditou ser ouvida, hoje o jovem que tem senso político, ecológico e humanista é um chato, resume-se em pequenos grupos oriundos de famílias educadas e com tradição pela cultura.

Somos a utopia em busca da perfeição e enquanto existir um ser humano ele vai lutar, não adianta esperar o que dizia a música do “Hair”, “When the moon is in theseventh house, and júpiter aligns with mars, then peace will guide the planet, and love will steer the stars”, cuja tradução é “Quando a lua estiver na sétima casa, e júpiter se alinhar com marte, então a paz guiará os planetas e o amor dirigirá as estrelas”, que segundo os cálculos só acontecerá no ano 2600, já ouvi esta história e foi muito bonita, mas o que influenciou mesmo, não foi a lua ou o alinhamento dos planetas, e sim uma nova mudanças de atitudes e o que percebemos atualmente é que a mensagem da geração de 1968 está sendo esquecida.

Jaime

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