domingo, 10 de julho de 2016

Terraço do Café na Praça do Fórum - Van Gogh

NOITES

À noite eu sonho adormecido
Mas já sonhei acordado
Olhando as luzes de néon
Caminhando nas noites
Onde respirava vida.

Na louca alegria soturna
Nos bares, nas esquinas
Entre almas noturnas
Onde anjos e demônios
Andam na mesma bruma.

À noite e seus segredos
Sempre a desvendar
Com máscaras sem endereços
Onde queria me perder
Para me encontrar.

Festa em Mahagonny
Onde muitos não têm nome
Entre o devasso e o sério
Das luzes e dos mistérios
Até o triste arrebol.

A noite mistura odores
Caros e baratos
Simples e elegantes
Loucos e lúcidos
Tudo no mesmo prato.

Embaixo da luz caída
Festa de subterrâneos
A noite é simbolista
Onde formas, silhuetas e bosquejos
Dividem a mesma pista.

A noite é novidade
Dos oportunos e desconhecidos
É o outro universo
Da vida que o dia não mostra
A Agharta dos perdidos.

A noite tem muitas faces
É o paraíso de quem sonha
E quando escurece
Nas luzes da babilônia
Outro mundo acontece.

A noite é o místico
Dos labirintos das metrópoles
Dos doces e malditos
Onde agito vivo e ardo
E onde todos são pardos

Aprendi a viver a noite
Das trapaças e logros
E seu delicioso jogo
Assim como Leminski
Fiz-me senhor do fogo.

A cantora é melancólica
O pianista virtuoso
A bailarina hiperbólica
O jazz toca para as almas
O rock é diabólico.

A noite dos inocentes
Dos anjos histéricos
Procurando uma dose
Para aplacar a dor
Para ativar a ira
Para falar de amor

A noite de muitas vidas
Do menino que sonhava
Hoje velho
Estrutura combalida
Vivendo as lembranças
Dos sonhos que sonhava
Nos caminhos da noite
Aonde eu me perdia
Onde eu me encontrava. 

Jaime BagháCom saudades de se perder nas noites.