sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Nelson Rolihlahla Mandela

Mandela

Este homem negro nasceu numa aldeia e sofreu segregação racial, foi condenado a prisão perpétua, acusado de sabotagem, comunista, subversivo, rebelde, traidor fora da lei e ficou na cadeia durante 27 anos.  
Foi amigo de grandes líderes políticos, de personalidades, de artistas, de ditadores, de reis, de rainhas e  de princesas. Saiu nas manchetes dos jornais abraçado com Fidel Castro e não foi vilipendiado pelos conservadores de seu país.
Algumas vezes foi até incompreendido pelos seus seguidores, no entanto ganhou prêmios pelo mundo afora por suas posições e até um prêmio Nobel da Paz, foi presidente do seu país e a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu um dia em sua homenagem: “O Dia Nelson Mandela” 18 de julho. Mandela é considerado como um dos maiores líderes morais e políticos de nosso tempo.
Como seria ele se vivesse no Brasil? Principalmente na época da ditadura aos nossos dias? Como seria visto este líder pelos nossos "homens de bem", que discriminam e desrespeitam um líder que não esta de acordo com os seus padrões "burgueses", seus conservadorismos arcaicos e retrógrados que manipulam a mídia, as informações e até suas religiões para que o povo odeie os líderes que são voltados mais as causas sociais e humanas? Acho que não chegaria a ser um Lula, seria um 46664 ou morreria como um Amarildo.

Jaime Baghá – Descanse em paz Tata Madiba


"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, pode ser ensinado a amar."   
Nelson Mandela


INVICTUS

Sob o manto da noite que me cobre
Negro como as profundezas de um pólo a outro
Eu agradeço a todos os deuses
Por minha alma invencível.

Nas garras ferozes das circunstâncias
Não me encolhi, nem derramei o meu pranto
Golpeado pelo destino
Minha cabeça sangra, mas não se curva.

Longe deste lugar de ira e lágrimas
Só assoma o horror das sombras
Ainda assim, a ameaça dos anos me encontra
E me encontrarão para sempre, destemido

Pouco importa quão estreita seja a porta
Quão profusa em punições seja a lista
Sou senhor do meu destino
Sou o capitão de minha alma.

Poema de William Ernest Henley (1875), que Mandela lia na prisão.


domingo, 8 de dezembro de 2013

Somos Nós

Vocês dizem que não entendem
Que barulho é esse que vem das ruas
Que não sabem que voz é essa
que caminha com pedras nas mãos
em busca de justiça, porque não dizer, vingança.


Dentro do castelo às custas da miséria humana
Alega não entender a fúria que nasce dos sem causas,
dos sem comidas e dos sem casas.
O capitão do mato dispara com seu chicote
A pólvora indigna dos tiranos
Que se escondem por trás da cortina do lacrimogêneo,
O CHICOTE ESTRALA, MAS ESSE POVO NÃO SE CALA..


Quem grita somos nós,
Os sem educação, os sem hospitais e sem segurança.
Somos nós, órfãos de pátria
Os filhos bastardos da nação.


Somos nós, os pretos, os pobres,
Os brancos indignados e os índios
Cansados do cachimbo da paz.
Essa voz que brada que atordoa seu sono
Vem dos calos das mãos, que vão cerrando os punhos
Até que a noite venha
E as canções de ninar vão se tornando hinos
Na boca suja dos revoltados.


Tenham medo sim,
Somos nós, os famintos,
Os que dormem nas calçadas frias,
Os escravos dos ônibus negreiros,
Os assalariados esmagados no trem,
Os que na tua opinião,
Não deviam ter nascido.


Teu medo faz sentido,
Em tua direção
Vai as mães dos filhos mortos
O pai dos filhos tortos
Te devolverem todos os crimes
Causados pelo descaso da sua consciência.


Quem marcha em tua direção?

Somos nós,
os brasileiros
Que nunca dormiram
E os que estão acordando agora.


Antes tarde do que nunca.

E para aqueles que acharam que era nunca,
agora é tarde.


Sérgio Vaz – poeta da periferia

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

DEPRESSO

Eu vejo seu mundo
Com olhos de poeta
Seus sonhos
Anseios
Que lhe afetam.

Conheço sua afasia
Seu medo
O olhar atrevido
A benevolência
O bandido
O tolo
O pueril
O ser de falsos amores
Sua pose cariátide
Seus temores
Suores
Tremores.

Eu vejo seu olhar
Perdido no nada
Taciturno
Alhures
Seu ópio
Seu cigarro
Seu salva-vidas de agarro.

Eu conto o teu nada
E sei que teu amor
Não sabe o amor
E olho teus olhos
De mágoas
De dor
Que você disfarça
Num sorriso
Um tanto sem graça.

Eu vejo teus fantasmas
Transparecer nos teus olhos
Lôbregos
Tristes
No caminhar cabisbaixo
Na vaidade de ornatos
Como se nada existe.

Eu vejo a expressão
De timidez e brandura
Frágil
Forte
Bacante
Misteriossa
Insegura.

Eu vejo teus dias
Fazer-se escassos
Das alegres euforias
Conheço os estágios
De risos
Loucuras
Pesadelos e sonhos
Liberdade
Clausura.

Enxergo o óbvio
Tua vida incerta
Mostro o oculto
O teu oculto
Porque sou poeta.

Sentada na porta...
Na soleira...
No fim do dia...
Ares de melancolia...
Artelhos...
Joelhos...
Debruçada...
E os olhos verdes...
Perdidos no nada...

Para você, em eternas melancolias.  

Jaime Baghá

A Caravana

Porque os maus sempre sobrevivem

Eles detêm novas armas e tecnologias a serviço da mentira e do horror! Impressionante, Brecht é sempre uma fonte inesgotável de falas que se mantém atuais, sempre dominando o tempo. Ele responde à pergunta cima: “Porque as forças do mal são mais fortes. As novas invenções caem sempre nas mãos deles e eles vão utilizá-las sempre das maneiras mais destrutivas”. E, agora, seja nos novos meios de comunicação, seja na internet, seja no Facebook.

Quando o ex-presidente estadunidense George Bush levantou o problema da existência de armas de destruição em massa no Iraque, esse não foi na verdade o argumento que ele usou para justificar a invasão do território iraquiano. Sabendo que não existia esse perigo, inexistência confirmada por El-Baradei, daí é que Bush teve a certeza que podia invadir o Iraque sem riscos, iniciando a guerra sem receios, destruindo cidades antiquíssimas, causando a matança de milhares, levando a população inocente a uma destruição que já dura uma década e que dia a dia tem novas vítimas, sem parar.
E isso feito em nome da “maior democracia do mundo” já virou uma grotesca piada.

Assumindo como potencia mundial o papel de defender a democracia em todos os países do planeta, espalhando esquadrilhas de aviões com bombas nucleares em todo o mundo, vigiando com olhos de condor os países onde há divisões internas, utilizando essas divisões para abrir brechas para a intervenção de suas tropas ou de mercenários, ultimamente passaram a usar grupos anônimos, provocando instabilidades até derrubar as verdadeiras democracias.

João Goulart não foi eleito democraticamente? Allende não foi eleito democraticamente? Trocados por generais sanguinários no Brasil em 1º de abril de 1964 e no Chile em 11 de setembro de 1973, plantando um horror como Pinochet. E um ultimo golpe, provocado por Washington no Egito – não foi um golpe brutal? Será que Mursi não foi o primeiro presidente eleito no Egito depois da Primavera Árabe? Será que ele não foi derrubado por um golpe? Será que o mais de 1 bilhão de dólares que os EUA enviam anualmente ao exército egípcio não foi dominante nessa situação?

O Grande Irmão domina a cada segundo seus vassalos, seja a Grã-Bretanha, Espanha, Portugal ou Itália, dando a ordem de não deixar voar sobre seus territórios o avião do presidente boliviano Evo Morales, quebrando da maneira mais brutal leis internacionais, utilizando os tribunais contra crimes internacionais em Haia, estabelecidos contra os inimigos das potencias mundiais. O presidente da antiga Iugoslávia, Milosevic, tinha todos os direitos morais e jurídicos de defender a Iugoslávia unida contra as provocações de minorias separatistas, mas o Ocidente deu a esses separatistas armas e no fim invadiu a Iugoslávia militarmente, no inicio com bombardeios, depois com exércitos da OTAN e dos Estados Unidos. Haia não teve possibilidade de provar as acusações porque Milosevic morreu na prisão.

Alguém fez a conta de quantas vítimas inocentes Washington causou nos últimos dez ou onze anos no Oriente Médio? E os EUA e seus cúmplices já foram condenados? Alguém levou esses criminosos de guerra ao banco dos réus em Haia? Foi estabelecido que os EUA vão sustentar Haia, mas Haia não pode julgar cidadãos americanos. O maior teatro de absurdo, que dá para assustar todo o mundo, é essa última notícia de que qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo pode ser espionada pelos Estados Unidos. Essa notícia é que devia levar às ruas multidões enormes contra os Estados Unidos.

Passaram 49 anos desde que assistimos a um filme desses aqui no Brasil. Foi então que começou a intervenção da CIA, o primeiro passo que levou à Operação Condor. Quem são agora esses anônimos que estão intervindos de fora? De novo vamos estar despreparados para um evento desses? Contra quem a gente protesta nas ruas? Essa divisão interna não vai ser aproveitada pelos EUA de novo? Os países da America do Sul continuam sendo um quintal do Grande Irmão?

Os Estados Unidos não tem interesse em democracia. Quando entregaram o Iraque nas mãos dos xiitas, as mulheres que já tinham conquistado sob Saddam Hussein o direito de estudar e de exercer profissões, sendo iraquiana uma das maiores arquitetas do mundo, passaram a ser tolhidas. E ainda os xiitas iraquianos são os maiores aliados dos seus confrades iranianos. E nem interessa aos Estados Unidos o desenvolvimento das reformas agrárias no Brasil, e daí tem cúmplices no País, contra a reforma agrária e o Bolsa Família. Essas divisões internas que são criadas são ligadas a interesses de fora e são financiadas de fora; o vandalismo tem ligação com gente de fora. Continuaremos sendo ingênuos?

Gershon Knispel.


William S. Burroughs

Oração ao Dia de Ação de Graças

Para John Dillinger, na esperança de que ele ainda esteja vivo. Dia de Ação de Graças, 28 de novembro de 1986.


Obrigado pelo peru e pelos Pombos Correios, destinados a serem cagados por saudáveis tripas americanas
Obrigado por um continente para se pilhar e se envenenar
Obrigado aos índios, por nos abastecerem com uma quantia módica de perigo e desafio
Obrigado pelas vastas manadas de bisões para se matar e se escalpelar, deixando as carcaças apodrecerem
Obrigado pela recompensas por lobos e coiotes
Obrigado pelo Sonho Americano, por tudo vulgarizar e falsificar até que as mentiras nuas resplandeçam
Obrigado à Ku Klux Klan, por tiras assassinos de negros acariciando as marcas na coronha...por mulheres decentes e carolas, beatas de igreja com suas faces amarradas, amargas e más
Obrigado por adesivos tipo “Mate um viado em nome de Cristo”
Obrigado pela AIDS criada em laboratório
Obrigado pela Lei Seca, e pela Guerra Contra as Drogas
Obrigado por um país que não deixa ninguém tomar conta de seus próprios assuntos
Obrigado por uma nação de dedos-duros, é....
Obrigado por todas as lindas lembranças, “tudo bem, maluco, pode ir mostrando os bracinhos! “... você sempre foi uma dor-de-cabeça e um pé no saco
Obrigado
Pela maior e última traição
Do maior e último dos sonhos humanos

Poema de William S. Burroughs. Do livro de 1989 “Tornado Alley”




domingo, 13 de outubro de 2013


HOMEOPATIA

Contra a mídia sagaz,
Leia o senhor Baudrillard.
Raiva de livros feios,
Ignore os do Paulo Coelho.
Contra a fofoca infame,
Relaxe com Miles Davis e Coltrane.
Contra impulsos suicidas,
Leia coisas divertidas.
Até que a angustia estanque,
Muito Aldir Blanc.
Conta sem saldo? João Ubaldo.
Pavor de Trombose?
Zizzi Posi.
Fizeram você de bobo?
Não esquenta: Edu Lobo.
Se a impunidade te abusa,
Escute o saudoso Cazuza.
Se a corrupção não há quem estanque,
Compre uma máscara do Guy Fawkes.
Se o Supremo Tribunal te parece vergonhoso,
Conheça Idibal Piveta e leia Heleno Fragoso.
Falta-se inspiração
Que pode te levar a um ataque,
Ouça urgente o Chico Buarque.
Contra enxaqueca,
Leia Rubem Fonseca.
Contra o débâcle amoroso,
Ouça Caetano Veloso.
Abandonado como o rei Lear?
Leia Moacyr Scliar.
Se a classe média não chegou em ti,
Leia Marilena Chauí.
Se uma grande tristeza te invade,
Escute clássicos de Vivaldi.
Contra coriza e desdita,
Ouça Maria Rita.
Contra aflição e lumbago,
Leia o Saramago.
Ninguém te ama ninguém te quer?
Ouça o Charlie Parker.
Tudo é torto, tudo é tosco?
Ainda bem que tem o João Bosco.
Se você é um perdido neoliberal,
Consome e empenha até a alma,
Leia Zygmunt Bauman.
Contra o reles,
Lygia Fagundes Telles.
Se quem tu querias não te quis,
Fique só e ouça Elis.
Se tudo esta triste e nada dá certo,
Se contente com Clarice Lispector.     
Contra tudo que amola,
Use Paulinho da Viola.
Contra o medo do Opus Dei,
Use Billie Holiday.
Contra qualquer tipo de crise,
Ouça o Mauro Senise.
E se persistir a dor,
Procure um médico – ou leia Millôr.
E se realmente estás muito só,
E não tem um amigo que te ame,
É simples, procure o Jaime.
Jaime Baghá.







O GRANDE IRMÃO


Nós nascemos olhando para o outro lado, vamos aprendendo a ser servil, ficamos babando pelo outro lado querendo ser o personagem que a Sony Television te ensina a sonhar.  Como num conto de George Horwel, cada um tem o grande irmão no canto da sala ensinando o que usar o que comprar como deve proceder como ser atual, quem é os vilões e quem é o herói.
Você abandona teus costumes, a tua realidade e conhece mais as estrelas e as listas vermelhas de uma bandeira americana do que uma da América Latina. Esta TV que nos globaliza de maneira imbecil já troca nossas datas festivas por outras que não pertence a nossa tradição, nossas professoras já esperam o dia do halloween, achando até ridículo que se fale no dia do Saci. As meninas sonham em ser barbies e celebridades e recebem nomes estrangeiros tão estúpido como a cultura do dono do cartório, e assim temos Deividis, Magaivers, Maicons,  Diulias, Catrines, Carolaines e outros nomes que demonstra uma pobreza cultural, esperando um jovem loiro, bonitão, musculoso e de olhos azuis, o colonizado sonha com o símbolo da beleza do colonizador. Assim aos poucos aprendemos a nos desprezar e se conformar em serem povos de segunda ou terceira categoria.
 Somos globalizados no nada, somos fragmentados e muitas vezes nem gostamos de nós mesmos, o grande Big Brother impõe sua cultura e nos torna artificiais, com manias que não são nossas e nos sintetizam em algo que não somos. Até o café do Brasil ficou reduzido a um Starbuks Cofee. Temos a melhor comida de um país tropical, mas a galera prefere mastigar um bagaço de “carne” do Big Mac, ou uma “pizza” Hut, adoramos aqueles sabores quimicamente manipulados e frequentar o lugar que mostra um bom aspecto por causa da publicidade.
O pior é pagar por uma TV a cabo, pagamos para que nos dominem e pagamos para que nos excluam, enfim pagamos por um mundo onde não nos encaixamos e para ser colonizado. Pagamos para tentar saber que não somos loiros e inteligentes, criativos, audazes, nem suficientemente maus como os caras da Fox News. Quando nossos sonhos são colonizados, deixamos de sonhar sonhos possíveis, aceitamos passivamente em ser estranhos, sendo ridicularizados pelo colonizador, algumas vezes confundido com o terrorista.
Prefiro a América Latina onde em muitos países ando sem passaporte, e vendo o quanto é lindo seus costumes, seus sons, suas gentes, do que esta Latin America entalhada numa identidade importada tipo essa que aparece na tela da TV, espelho duvidoso em que nos espelhamos. Somos os latinos que necessita de nossa independência para olhar para nós mesmos sem complexos e despojados dos lastros colonizantes, que chama nosso país de quintal, dos sonhos loiros dos olhos azuis, sonhos tutelados que se tornam pesadelos, explorados em nossas economias, nossos recursos e até entregar nossa soberania. Somos explorados pelas corporações e por uma modernização conservadora, que, envergonhada e covarde de se assumir como tal, busca revestir seu ideário com uma tintura iluminista. Quero pensar como Glauber Rocha, “sou um bárbaro e as minhas raízes são as culturas populares do Terceiro Mundo”.
Fique livre, desligue o cabo, mas se formos assistir não vamos comprar a ideia, entendam que é apenas uma TV.
Sendo violento entre seus pares na sua sociedade, para a mídia colonizadora “o indivíduo moderno pode ser compreendido como um objeto dócil e inútil”, conclui no final de sua obra “Vigiar e Punir” Michel Foucault.
“O totalitarismo é filho da sociedade industrial, que combinou a crença na força das tecnociências com o desenvolvimento do racismo e da exclusão”, como mostrou Hannah Arendt.
O gosto não é uma propriedade inata dos indivíduos, mas é produzido, resultado de um feixe de condições materiais e simbólicas acumuladas no percurso de nossa trajetória educativa como falou Pierre Bourdieu, o sociólogo que diz que “gosto se discute”.
Da maneira como o poder opera, “o estado de espírito fixado e manipulado torna-se um poder efetivo: A organização da sociedade impede, de um modo automático ou planejado, pela indústria cultural e da consciência, pelos monopólios de opinião, o conhecimento e a experiência dos mais ameaçadores acontecimentos, das idéias e teorias essencialmente críticas, paralisando a capacidade de imaginar concretamente o mundo de  um modo diverso de como ele dominadoramente se apresenta aqueles por meio dos quais é constituído”. (Theodor Adorno – “Capitalismo Tardio ou Sociedade Industrial”, p.70).

Jaime Baghá.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Mulher Chorando - Picasso

É O ACORDAR QUE NOS MATA *

Quero meus sonhos
Esquizofrenias
Não a cura que limita
Que investiga minha razão.

Nada que me limite
Analise
Quero o que move a vida
Angustias
Anseios
O sublime
Meus sonhos e ilusão.

Quero o demasiado humano
O fracasso do pensamento lúcido
A fantasia da imortalidade
Ceticismo
Meias verdades.

O que será de mim
Sem a minha loucura
Quero a minha luz
Meus escuro
Para poder estar vivo
Encontrar minhas procuras.

Jaime Baghá – numa luta entre loucura e razão.

(*Virginia Woolf)

Fui ao analista, cheguei atrasado, ele disse que eu estava com resistência
Cheguei antes da hora, ele interpretou como ansiedade
Hoje cheguei pontualmente, ele me chamou de obsessivo
Não entrei, dei meia volta e fui para casa, ler Artaud e Baudelaire, triste por
te-lo deixado vivo.

“A natureza é um tempo onde vivos pilares, deixam filtrar não raro insólitos enredos
O homem cruza em meio a um bosque de segredos, que ali espreitam com seus olhos familiares.”  Correspondência – As Flores do Mal – Charles Baudelaire.


Angústia - Edvard Munch


 Esta velha angústia, 
Esta angústia que trago há séculos em mim, 
Transbordou da vasilha, 
Em lágrimas, em grandes imaginações, 
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror, 
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum. 

Transbordou. 
Mal sei como conduzir-me na vida 
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma! 
Se ao menos endoidecesse deveras! 
Mas não: é este estar entre, 
Este quase, 
Este poder ser que... 
Isto. 

Um internado num manicômio é, ao menos, alguém, 
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio. 
Estou doido a frio, 
Estou lúcido e louco, 
Estou alheio a tudo e igual a todos: 
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura 
Porque não são sonhos. 
Estou assim... 

Pobre velha casa da minha infância perdida! 
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto! 
Que é do teu menino? Está maluco. 
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano? 
Está maluco. 
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou. 

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer! 
Por exemplo, por aquele manipanso 
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África. 
Era feíssimo, era grotesco, 
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê. 
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer — 
Júpiter, Jeová, a Humanidade — 
Qualquer serviria, 
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo? 

Estala, coração de vidro pintado! 

Álvaro de Campos

Camile Claudel

"A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. 
Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. 
Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. 
Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. 
Ter consciência dela e ela ser grande é ser gênio". Fernando Pessoa

segunda-feira, 1 de julho de 2013

MANIFESTAÇÕES NO BRASIL




                          
Eu pensei que não tínhamos mais indignados, eu pensei que não veria mais protestos, passeatas, ocupações, até fiz críticas pesadas no meu blog com saudades dos velhos tempos, da UNE, dos estudantes e de um povo que não se calava e não se cala, mesmo depois de trinta anos governado por generais.
Estava morrendo de ciúmes da Islândia, do Occupy Wall Strett, dos espanhóis na Praça do Sol, dos gregos, da primavera árabe, até do vizinho Chile e da Camila Vallejo. 
Achei que íamos ficar para sempre nessa de celebridade (argh), nesta vulgaridade da música brasileira, cabelinhos engomados, sertanejos caubóis de 5ª categoria invadindo as universidades com toda esta alegoria do mau gosto, incluindo algumas pequenas cópias sem significado dos jovens europeus com a máscara do Guy Fawkes, meninos brincando de rebelde, que não saiam do facebook, porém tive esta grata surpresa e (como diz o cartaz) “eu acredito no vinagre”.
A distância dos protestos no Brasil fez com que muitos especialistas errassem, não acreditaram, até imprensa deu o maior fora, como o Arnaldo Jabor, mas este não é de se levar muito a sério. Foi muita alegria, que emoção em vê-los novamente de caras pintadas empunhando bandeiras, gritando palavras de ordem, mostrando que estamos de saco cheio numa explosão de insatisfação vencendo a imprensa antipática e a polícia truculenta.
Fico feliz em ver nas ruas o grito contra o abuso da corrupção, dos roubos de centavos a milhões, dos políticos ladrões, de malfeitores na presidência da Câmara e do Senado, da falta de educação, da saúde abandonada, dos erros da prioridade em construir estádios enquanto o povo não tem hospitais, nem a criminosa PEC 37 passou despercebida. Depois dessa a FIFA vai ter que se questionar, porque vai cada vez mais encontrar resistências em democracias, fato que sabe muito bem o mafioso internacional Joseph Blatter, presidente da FIFA que diz “menos democracia é melhor”.
Temos algo de novo acontecendo, com manifestantes estruturados, colocando o dedo em todas as feridas deste país, também temos vândalos, ladrões de lojinhas como definiu Slavoj Zizez, crias e subprodutos da sociedade ingrata, de “um mundo sem mundo”, e que, devido à miséria que o estado lhes oferece, me parecem poucos nas ruas, poderia ser pior. Então não se pode pensar um termo marxista para os vândalos que se encaixam mais facilmente na noção hegeliana de ralé, escória, que manifestam sua raiva irracional de destruição que Hegel chamava de negatividade abstrata.
São os nossos bas-fonds, bafão no termo bem popular que são maioria em nossa sociedade, cria das corruptelas políticas, o verdadeiro povo brasileiro que lota estádios e faz a festa do nosso carnaval, eles também têm o direito de se manifestar e não são tão insossos quanto os nossos universitários, e isso é só o esquenta porque este povo é que esta cansado de sofrer.
Como negativo nestas manifestações também temos os políticos golpistas, aqueles que acham que quanto pior melhor, e vivem pegando carona em qualquer desgraça para se promover. Acontece que estes políticos também não são nada, são piores que os vândalos, porque são seus pais, vândalos em sua maioria são crias dos políticos canalhas, por isso são necessários, não se faz um bom protesto sem nenhum confronto, sem quebrar alguma coisa e colocar fogo nas barricadas, só deveriam estar mais voltados em destruir o patrimônio dos seus criadores do que do cidadão comum.
Estou mais tranqüilo, ainda não nos calamos,temos estudantes, temos o povo, temos os índios revoltados e abaixo aos desgraçados. “Verás que um filho teu não foge a luta”, estamos novamente caminhando e andando e vamos caminhar sempre contra ao desaforo e a pouca vergonha política e vejam que a primavera ainda nem chegou.
Jaime Baghá

FRASES DAS MANIFESTAÇÕES

"Não precisa de gás lacrimogêneo, os políticos já deram muitos motivos para o povo chorar".
"O gigante acordou".
"Não é apenas por vinte centavos".
"Queremos escolas e hospitais no padrão FIFA".
"Copa não, saúde e educação".
"Ou para a roubalheira ou paramos o Brasil".
"Abaixa a tarifa e manda a conta pra FIFA".
"Não são só centavos, são bilhões em desigualdades".
"O suor da minha testa não vai mais bancar sua festa".
"Não atire, ouça!"
"Tem tanta coisa errada que não cabe em um cartaz".
"Quando seu filho ficar doente, leva ele a um estádio"
"Partido nenhum me representa a mídia não me manipula".
"O povo acordou, o povo decidiu, ou para a roubalheira ou paramos o Brasil".
"Chega de corrupção, queremos mais educação".
"Vem pra rua".
"Brasil vamos acordar, professor vale mais que Neymar".
"Se segurança se faz com armas e violência, então qual a diferença entre polícia e bandido".
"A ditadura acabou, faltou avisar a polícia".
"Já que a bombas é de efeito moral, joga no congresso nacional".
"Larga a Candy Crush e vem pra rua".
"Eu acredito em vinagre".
"Era um país muito engraçado, não tinha escola só tinha estádios".
"Ô fardado, você também é explorado".
"Mais educação, menos festa de peão".

sábado, 25 de maio de 2013



Breve história do Xamanismo

Hegel procurou seu protetor xamânico na
flor negra
Novalis na flor azul

São Francisco quis perpetuar seu tótem no cântico
delle Creature

O gavião de penacho
fez a cabeça de
Oswald de Andrade

O girassol da madrugada
dissipou a couraça
Católica de Mário
(o clã do jabuti agradece)

Holderlin dançou
em torno do Eter
como um navajo

Trakl escureceu o dia
com seus pântanos e miasmas

Dante atravessou 3 reinos em êxtase
viu a luz no fim do túnel

Lautreamont se comparava à águia e ao dragão

Pasolini sonhava com o Centauro

Gonçalves Dias e seu sabiá melancólico

Ionesco criava rinocerontes ameaçadores

O Sol negro levitou Artaud
até o céu do peyote

Michaux às vezes incorporava o rio negro

Alma de Eliot onde trota o arganaz

Walt Whitman e seu martim pescador revoando no crepúsculo

D. H. Lawrence chamou todos os animais
E plantas em seus poemas

Gianbatista Vico incorporou um exu chamado Bestione

William Blake, poeta druida, incendiou o tigre nas florestas da noite
(suas profecias contra a sociedade industrial, todas vingaram)

Graciosa coxa de Pan alucinou Rimbaud

W B Yeats recebia um gnomo surrealista

Ovo primordial De Arp Águia ou Sol?
Onde Octavio Paz engatilha suas flores surrealistas

Um índio Hopi presenteou Jung com um urso de madeira

Jorge Luis Borges
E seus protetores imaginários

Guimarães Rosa janta hoje com Jaguaretê

Dino Campana entrava na gira de Orfeu

Leopardi & o Brasão onde o leopardo rampante gerou seu nome

Paracelso dizia que não devemos evocar elementares
(são as bruxas)

A Nasa treina astronautas no vácuo xamânico
eu espero o Sol /Gavião nesta colina que dança.

 Roberto Piva.




segunda-feira, 13 de maio de 2013


Nininho e Jaime - 1988


Élder, Maneca e Jaime -  1979


LEMBRANÇAS

Houve um tempo
De pé na estrada
Hippie
Roqueiro
Motos
Vanguarda
Sem vergonha
Metrópoles
Noites
Subterrâneo
Sem imposto
24 horas
Sem desgosto
Vagabundo
Muita praia
Pouca luta
De norte a sul
Encontrando paraísos
Sonhos
Procurando saídas
Indo ao inferno
Encontrando amor
Em meio às perdidas
Comendo chessburguer
Cervejas
Sem prato
Vomitando no banheiro
Dormindo de sapato
Tomando Engov
Cara de safado
Lendo Bukowski
Veio a idade
Maturidade
Vida equilibrada
Esperando a morte
E se poupando
Pra nada...
Pra nada...
Pra nada!

Jaime Baghá na “Era da Informação”, se informando pra nada, porque o bom é o tudo. Se não se pode mais ter o tudo, o nada é a verdadeira perfeição.

“Eu vi as melhores mentes da minha geração destruídas pela loucura,
esfomeados nus e histéricos,
arrastando-se pelas ruas negras do poente
à procura de um rancor injetável”.
Allen Ginsberg

Tristemente eu também os vi, é a dor que insiste em me acompanhar nas lembranças.
Aos queridos amigos Élder e Nininho (In memoriam). 

Maneca, Jaime e Khan - 1979


Maneca, Jaime, Élder e Maninho - 1978


NOCTÂMBULOS

Bem antes dos preâmbulos
Andava nas noites
Rebelde
Noctâmbulo
Procurando amores
Encontros
Vidas
Poesias
Jeans desbotado
Sagaz
Molambo
Na mesa do bar
Conversa fora
Esperando
Alguém chegar
Festas e rock
Jazz
Vida
Zoar
Ribaltas e néon
Eternidades
Indomáveis
Abraçados
Ruas da cidade
Risos soltos
Estrelas no céu
Aurora no cais
Acordar no motel
Para outra noite
De farras e bebes
Magias e sonhos
No meu Porto Alegre.


Também dos meus (por algum tempo), Floripa, Rio, Salvador, Olinda e a saudade e o carinho dos malucos, doidos, desgraçados, exagerados, tristes, apaixonados, que praticavam um suicídio diário por sentirem tanta sede e gana de viver... Jaime Baghá