segunda-feira, 30 de janeiro de 2023


 NA NOITE

Na noite não há nomes reais

Maria é Pamela

Berenice é Jennifer

Raimunda é Shirley.

Na noite tudo é falso irreal

Na noite não há pedras no meio do caminho

Há o tabefe, o calor, o tato.

A noite vem sempre a palo seco

A noite vem sempre a falo duro

A noite quase não se fala.

As atitudes, os gestos, a bofetada, o carinho

Os amores, os prazeres, o ódio e o dinheiro são crus

A noite quase não se fala

A noite tudo é acústico

A noite é injusta

Entre uma felação e outra

Entre morte e vida

Severina, agora Ariadne, lê poemas de João Cabral de Melo Neto.

Jaime Baghá

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023


 

ENIGMA

E este pensamento aonde irá?

Vai sucumbir no fim?

Morrerá?

Raio de dúvida cruel

Que me bloqueia o pensar.

As vezes penso eu?

Outra situação ou mundo deve existir?

Ou é só uma vida por parir.

Mas este pensamento aonde irá?

As células não podem pensar?

Mas as células das células

Não ficarão a vagar?

Raio de dúvida cruel

Pensamento tão maroto

Quer uma saída

Não admite ficar morto.

E este pensamento aonde irá?

Não sei

Não conseguiu ainda me explicar

Satiriza

Enche-me de fantasias

E sempre fica uma ponta do véu.

E este pensamento aonde irá

Raio de dúvida cruel.

Eu querendo ser eterno Jaime Baghá

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Na foto os meninos que voavam na doce infância da Rua Lidio Batista Soares em Cachoeirinha-RS. Da esq. p/ dir: Carlinhos, Sebastião, Tadeu, Flávio, Paulinho, Nelsinho, Eu Jaime, Paulo, Huguinho e Vilmar.


ERA UMA VEZ UM MENINO

 Eu era um menino

Que gostava de flâmulas

Gibis, bolas de gude

Peões, caixa de bugigangas

No quartinho, embaixo da cama.

 

Eu era um menino

Que dançava rock

Para as primas olhar

Coca-Cola e lanchinho

Nos córregos a pescar.

 

Eu era um menino

Cantor, cowboy

Que não perdia matinê

Banho pelado nos açudes

Seriados de super-heróis

 

Eu era um menino

Desbravador de florestas

Do fundo do quintal

Tarzan, Super Homem

Com capas de roupas do varal.

 

Eu era um menino

De imaginários inimigos

Espadas, pistolas de raio

Medo do escuro

Destemido diante do perigo.

 

Eu era um menino

Moleque, fora da linha

Mambembe, ator

Cunhado do meu amigo

Namorado da filha da vizinha.

 

Ainda sou um menino

Nesta egocêntrica luta

Paria do vazio convencional

Que me fez poeta, chacal

Nesta pífia sociedade adulta.

Um menino feliz – Jaime Baghá - primavera 2005