quarta-feira, 29 de dezembro de 2021


 BAGHÁ O OBSCURO * (ou Ápeiron)

Amanheci interiorano

Vou para beira do mar

Escrever no promontório

Ficar longe dos Dórios

Que sabem pouco o amar.

 

Além dos desenganos

Sinto o ar do oceano

Longe da afasia

Solitário

Manhã, cedo

Parado numa ataraxia

Sem a lira

Sem enredo

Mas poeta

Mais Aedo.

 

Esqueço os simples mortais

Suas banais cerimônias

Viajo pelo éter astral

No arque das cosmogonias

E os pífios de tão cegos

De quase vazios cérebros

Escolheram seus destinos

Vão para as sombras de Érebos.

 

Não quero suserania

Só etéreo em meu ego

Viajar nas poesias

Como Homero o cego

Indiferente aos povos

Quero ter a plenitude

Na harmonia do logos.

 

Não cultuo rapsódias

Como o senhor do certo

Acho que são paródias

De um poeta eclético

Pois a moral de tudo

É que vivo neste mundo

Uma odisseia louca

Um Ulisses vagabundo.

 Uma analogia a Heráclito de Éfeso – Jaime Bagh

domingo, 26 de dezembro de 2021


O FUTURO

O futuro não existe, pois ele nunca chegará, e quem morreu não o alcançou, e quem morrer não o alcançara. O próprio presente não existe é extremamente breve segundo o filósofo. Talvez eu saiba um pouco da fórmula de uma possível maneira de observar o futuro e chegar perto do que chamamos futuro, isto não é com a ciência mecânica e sim através da ciência do corpo e mente, precisamos nos conhecer. A hora é agora, enquanto vida depois lembranças, mais além nem as lembranças existirão, nem as passagens lembradas, porém os homens não sabem disso e pensam que são eternos. No fim querem dar o amor que foi negado, para ter o amor que não souberam conquistar, porém já é tarde, terão somente a compaixão por ser velho e terminal. Restará ainda por algum tempo ruínas de algum império construído e talvez mais um pouco a poesia de algum poeta esquecido. Jaime Baghá

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

São bilhões de dólares injetados nas últimas décadas em esforços frenéticos para transformar os serviços de saúde em mercadoria. Por quê? Por que fomos ensinados a ser egoístas.

O egoísmo faz parte da natureza humana, que o capitalismo se baseia em nossos instintos mais arraigados, nossa ganância nos faz ignorar nosso semelhante e lucramos com vida e morte. 

 

terça-feira, 7 de dezembro de 2021


 OLHAR SOBRE A CIDADE

Noite

Olho a cidade

Aquários simétricos

Herméticos

Invioláveis

Onde se escondem as multidões da cidade.

 

Multidões que se cruzam

Conhecem e não se olham

Olham mas disfarçam

Sorrisos imploram

Alguns gentis

Outros reaça.

 

Não se tocam

Gestos se esboçam

De querer bem

Não se completam

Alguns com desdém

Palavras inúteis

Escondendo gritos.

 

Quantas pessoas

Na solidão absoluta

Na algazarra dos comuns

Porque nenhum

Porque tão longe

Porque incomum.

 

Escorre dos aquários da cidade

Cai à noite

No meu aquário                   

Eu penso

Na cidade.

 

Sou mais um peixe fora d’água.Jaime Baghá