domingo, 11 de outubro de 2015

Banksy

     REALITY SHOW

Bem vindo ao reality show mundial, onde o rebanho é conduzido pelos tiranos da oligarquia internacional. Subjugados pela abstração financeira, onde política e mídia surgem do mesmo DNA, como diz Simon Shaheen.
Para toda a ilusão continuar aparece o assistente, o iluminador, o editor, o produtor, o apresentador e o diretor para dizer o que vai ao ar.
Em Israel as pessoas vão às ruas para protestar pela alta do queijo Cottage, pelo time de basquete que ganhou a copa, mas ninguém vai às ruas para falar o que acontece aos pacatos palestinos dos territórios ocupados, com suas casas demolidas, seus santuários profanados, suas oliveiras danificadas, com seus civis assassinados num apartheid odioso.
Quanto menos dinheiro você tem, menor é a liberdade. Então, você só pode sonhar nas narrações da ficção ou no fanatismo dos gritos e do histerismo religioso, na caixa do seu Deus Sony ou num “templo” ao lado da tua casa. Toda a loucura e toda a violência está se tornando banal, nada representa as mortes dos miseráveis e dos perseguidos com fome, refugiados sem a proteção da ONU, que perdeu a moral.  Milhares que atravessam os mares buscando amparo na Europa, que enriqueceu saqueando suas riquezas e hoje lhes fecham suas portas.
Em cada tragédia lá esta a equipe, com o iluminador e o editor para o show, mostrando os belicistas parecerem comprometidos com a paz, enquanto as vítimas são apresentadas como os algozes e protagonistas dos conflitos.  
Acho que somos culpados pela própria tutelagem do faz de conta, uma tutelagem fantasiosa, um embuste, uma ilusão imposta pelos mais poderosos que, com mão de ferro e a propaganda, fazem com que os seres humanos obedeçam sem fazerem uso da razão. Vejam os americanos com seu terrorismo destruidor.  Eternamente em guerra, eles saqueiam, invadem, matam e conspiram em todos os governos, mas são apresentados como heróis das telas, pelas mãos do iluminador, do editor, do diretor e do produtor, novamente. 
Não existe muita oportunidade, a justiça não se iguala a todos, ela tem lado. Com o reality shows até alguns ratos da esquerda se agarram à pretensão consumista, à alegria imediata, à promessa burguesa de felicidade, de serem a celebridade (argh) da telinha. Enquanto a globalização do capital devasta o planeta, lá vem a equipe, o iluminador, o apresentador, o editor, o diretor, etc...
O mundo tornou-se um lugar pequeno e todos os vícios estão perto de casa e todo mal muito próximo. Como disse Orwell, “vivemos numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário”.
Mas isso já vem de muito tempo, Theodor Adorno já tinha visto que Hitler nasceu em um programa de rádio, acho que num comercial de cerveja. Quando Adorno foi para os EUA fugindo do nazismo trabalhar com Horkheimer, viram a comunicação de massa nascer com o cinema, em 1910, daí escreveram o texto “Indústria Cultural, o esclarecimento como mistificação das massas”. Walter Benjamin também percebeu conforme seu texto, “A obra de arte na era de sua reprodutilibidade técnica”, de 1936. Foi o começo e o problema da indústria cultural.
Quando escreveram em 1944 a “Dialética do Esclarecimento”, Adorno e Horkheimer perceberam que a cultura estava sendo deformada. A equipe com o apresentador, o editor, o diretor e outros, já preparavam a “cultura de massas”, no qual, o indivíduo teve o seu pensamento reduzido e direcionado a viver mais para a sociedade de consumo, manipulados pela política, legitimando a sociedade capitalista, que garante o alcance do sucesso para bem poucos e os sonhos para muitos. “Já nenhuma ideologia política é capaz de inflamar as multidões, a sociedade pós-moderna não tem mais ídolos ou tabus, já não tem uma imagem gloriosa de si mesma, um projeto histórico mobilizador, hoje em dia é o vazio que nos domina. Mas é um vazio sem tragédia, sem apocalipse”, escreveu o filósofo francês Gilles Lipovetsky.
O Brasil a terceira sociedade mais desigual do mundo segundo a ONU, está se tornando um país podre, não por um presidente ou por uma crise econômica, mas por grupos de interesse, vende-pátria, políticos fisiológicos de plantão que legalizaram a contribuição de empresas para suas campanhas. Criminosos da lei que deveriam nos proteger. Togados intocáveis, judiciário vergonhoso com seus salários escandalosos e milhões de privilégios sem escrúpulos, amparados por suas próprias leis e pela mídia. Atualmente uma força conservadora corrupta que se mostram como defensores da sociedade, mas, querem manter estruturas desiguais e discriminatórias, querendo fazer da ética seu estandarte.
O neoliberalismo nos colocou no interregno, vamos torcer para que ele não vença, porque será sem sombra de dúvida um mundo de exclusão. Em que, seremos apenas mercadorias no mundo globalizado nas mãos das corporações e sua mídia controladora do rebanho.
Não troque o quadro do teu herói latino americano da parede por uma do Milton Friedman, não confie numa doutrina que não atenda as necessidades básicas dos cidadãos. Immanuel Kant ficaria horrorizado de ver aonde foi parar o “homem que saiu da menoridade” porque agora, pior do que antes do iluminismo, os homens vivem sobre a direção e ganância de poucos para um processo destrutivo de muitos.
Desconfie destes porcos, pois é para eles que chega à tua casa o iluminador, o editor, produtor, apresentador, o diretor e até um repórter canalha, dando chutes e rasteiras nos sofridos como Pietra Laszio, para decidirem o que vai ao ar, para mostrar “A Montanha dos Abutres”: o reality show da tua tragédia diária, para os bobos do sofá que fazem parte das estatísticas do horário “nobre”.

Jaime Baghá  - indignado lendo Eugênio Bucci.
                                                
A massa mantém a marca
A marca mantém a mídia
A mídia controla a massa.  
  George Orwell.


Os poetas ancestrais animizaram, com Deuses ou Gênios, todos os objetos sensíveis chamando­os por nomes.

Os adornando com as propriedades de bosques, rios, montanhas, lagos, cidades, nações e com o que quer que seus numerosos e aguçados sentidos pudessem perceber. 

E eles estudaram especialmente o gênio de cada cidade e
 país, colocando-­o sob sua deidade mental; 

Até que um sistema foi formado e alguns tiraram vantagem dele e escravizaram o vulgar ao conseguirem perceber ou extrair as deidades mentais dos seus objetos: assim começou o Sacerdócio; 
Escolhendo formas de adoração a partir de narrativas poéticas. 
E finalmente eles anunciaram que os Deuses tinham ordenado tais coisas. 

Assim os homens esqueceram que todas as deidades habitam o peito humano.

William Blake.




Nós vos pedimos com insistência:

Nunca digam - Isso é natural

Diante dos acontecimentos de cada dia,
Numa época em que corre o sangue
Em que o arbitrário tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza
Não digam nunca: Isso é natural
A fim de que nada passe por imutável.
Berthold Brecht.



Você nunca tentou saber como um cérebro está organizado?... O aparelho que o faz pensar? Hein? Mas claro que não! Não lhe interessa nem um pouco!... Precisa convencer-se, sinceramente, de que a desordem é a essência da nossa própria vida! De todo o ser físico e metafísico! É a sua alma... milhões, trilhões de circunvoluções... intrincadas, em profundidade, cinzentas, recortadas, mergulhantes, subjacentes, evasivas... Ilimitadas! Esta é a Harmonia! Toda a natureza! Uma fuga do imponderável e não passa disso... Ponho ordem em meus pensamentos; não substituo essa tarefa por outras, materialistas, negativas, obscenas... É preciso procurar o essencial! Você vai, por causa disso, cair em cima do seu cérebro, corrigi-lo, descascá-lo, mutilá-lo, forçá-lo a obedecer a regras obtusas? À faca geométrica? Refazê-lo, crucificá-lo às limitações da burrice?... Armá-lo em camadas como um bolo de aniversário? Com uma pedra dentro! Hein? Responda. Com toda a sua franqueza. Que tal? Seria bom? Interessante! Iria coroar tudo!... É a grande desordem que importa! Os pensamentos prósperos! Tudo tem seu preço... Depois que passa a oportunidade, acabou-se!... Você vai ficar, infelizmente, firme na sua lixeira da razão para sempre! O míope, o cego, o absurdo, o surdo, o maneta o palerma! É você que vem perturbar a minha desordem com esses seus pensamentos depravados... A Harmonia é a única alegria do mundo, a única liberdade, a única verdade. Em ordem! Merda! Em ordem! Habitue-se à Harmonia e a Harmonia descerá até você! E você achará tudo o que procura há muito tempo nos caminhos do Mundo... E muito mais! Uma emboscada inútil de armários! Uma barricada de folhetos! Uma vasta empreitada humilhante! Uma necrópole de mapas! Não sente a vida pululando, fremindo!? Ponha a mão só um pouquinho, um dedinho que seja... Tudo se agita! Vibra no mesmo instante! Está tudo prestes a se lançar, florescer, resplandecer... Não me acho com direito de dizer-te o que é... Muito menos de reduzir, corrigir, corromper, cortar, separar... Hein!?... Aonde é que eu ia achar esse direito? No infinito, na vida das coisas? Não, não é natural, são manobras infames!... Eu continuo em paz com o universo, deixo-o assim como encontro... Não o retificarei nunca!

Louis-Ferdinand Céline