quinta-feira, 2 de maio de 2024


 DEJAVÚ

Eu caminho nos desvios
Padeço e sobrevivo
Feito um cachorro vadio.
Não programo meus caminhos
Não traço objetivos
Pra não ter que aturar
Elogios familiares
E um babaca empertigado
No meu túmulo a discursar.
Não quero ser o exemplo
Queria ser vagabundo
Aproveitar o pouco tempo
Caminhando pelo mundo.
Sou o Cândido de Voltaire
Nesta miséria humana
Sou o que nada quer
E quem me quer me engana.
Sou o miasma que o sangue medra
Louco da Divina Comédia
Paria dos sociais bandidos
O que na vida anda perdido.
Observo os homens
Razão por não querer ter nome
Racional de paixão incompleta
Que me faz maldito poeta.
Sou o nada
Uma trapaça
Não quero a grande farsa
Arranco a minha máscara
Exponho a minha carcaça.
Não sou o que machuca o mundo
Que adora o Deus absurdo
Que mata a própria espécie
Ora para a utopia
E no paraíso padece.
Sou dos meus iguais o inviso
Senil que não perdeu o juízo
Sem apego aos objetos
Porque morre e vira dejeto.
Sou o engano
Profundamente humano
Que sofre por ser
Não ser
O que vê
E não quer ver
O não sei...
Eu
O ser...
O que faço aqui na poeirinha da poeira? – Jaime Baghá