domingo, 7 de junho de 2015




“Cada um vive atrás das grades que carrega consigo. Eis por que tantos livros falam hoje de animais. Isso exprime a nostalgia de uma vida livre, natural. Mas a vida natural, para os homens, é a vida de homem. Contudo, ninguém vê isso. Ninguém quer ver. A existência humana é demasiado penosa, por isso queremos nos livrar dela, ao menos pela imaginação. ...Bem abrigados em meio ao rebanho, andamos nas ruas das cidades, para irmos juntos ao trabalho, às manjedouras, aos prazeres. É uma vida precisamente delimitada, como no escritório. Não há mais milagres, só há modos de emprego, formulários e regulamentos. Tememos a liberdade e a responsabilidade. Por isso preferimos sufocar atrás das grades que nós mesmos fabricamos.” 
Franz Kafka 



LIMITE

Livra-te da condição humana
Do teu semelhante danado
Que por ganância engana
Do amor que foi negado
Da incompreensão que te profana

Acabe com teu tormento
Procure tua droga
Com a classe dos perdidos
Ao som da ópera majestosa
Dissolva teus elementos

Não lamentes pelos sórdidos
Tenha a grande solução
Termine teus sofrimentos
Acabe a tua dor
Use a dissolução

Tua alma vai ao nada
Como tua vida mutilada
Tua amargura latente
Tendo como escora a palavra
E paraísos inexistentes

Vá para o céu ou inferno
Para o corredor dos desesperados
Ou para o nada eterno
Mas livra-te do que te dana
Da podre condição humana.

Jaime Baghá -  - Pelas vezes, a procura da intersubjetividade, “Entre quatro paredes” (Huis clos), como na peça de Sartre vendo que “O inferno são os outros”.
           


Louis-Ferdinand Céline


“Eu tinha visto coisas demais suspeitas para estar feliz. Eu sabia demais e não sabia o suficiente. O que é pior é que a gente fica pensando como que no dia seguinte vai encontrar força suficiente para continuar a fazer o que fizemos na véspera e já há tanto tempo, onde é que encontraremos força para essas providências imbecis, esses mil projetos que não levam a nada, essas tentativas de sair da opressiva necessidade, tentativas que sempre abortam, e todas elas para que a gente se convença uma vez mais que o destino é invencível, que é preciso cair bem embaixo da muralha, toda noite, com a angústia desse dia seguinte, sempre mais precário, mais sórdido. É a idade também que está chegando talvez, a traidora, e nos ameaça com o pior. Já não temos música dentro de nós para fazer a vida dançar, é isso. Toda a juventude já foi morrer no fim do mundo no silêncio de verdade. E aonde ir lá fora, pergunto a vocês, quando não temos mais em nós a soma suficiente de delírio? A verdade é uma agonia que não acaba. A verdade deste mundo é a morte. É preciso escolher, morrer ou mentir.”

Louis-Ferdinand Céline