DEBOCHE
O que me diferencia
Ora, o que me diferencia
Eu sou o que tu vê e pensa
Sou a diferença
O que procura e te atura.
Que provas me dão teus deuses
Tão maus
Eu sou o onipresente
Não tua onírica
Incógnita da tua imaginação
Tua inquietação.
Sou tua resposta vazia
Tua afasia.
Olho teus olhos
Preso no desterro
Procuro o erro
Sou o amanhã
Porque escrevo
A arte me faz diferente.
Você reza, ora, medita
Me inventa,
Me expulsa
Me explica
E naquilo que nunca viu,
acredita.
Sua mente incompleta
Delira e não acerta
Não tem o devaneio louco
É fátuo
Eu, poeta.
Sou como você
Uma interrogação
Mas sou o que fica
O erro, a razão
Que expões a dor
Na despedida da amante
Risos largos
Em momentos de amor.
Sou o ser refinado
Impuro, comedido, gentil
Deixo levar-me aos láudanos
Um fauno senil.
Eu vanguarda
Você perdido
Dividido com nada
Entre prato e bispote
Pacóvio do meu mote.
Um dia de Augusto dos Anjos,
com vontade de não mais beijar as bocas que escarram, um dia de deboche. – Jaime
Baghá – primavera 1999