quarta-feira, 13 de maio de 2020



DISSIMULADO
Não gosto daquela gentileza
Aquele sorriso esperteza
Não gosto daquele elogio
Com tapas nas costas
E o abraço tão frio
Não gosto da aproximação fantasia
Amigo metáfora
Alegoria
Não gosto de quem me faz tão alto
E toda aquela alegria
Convencional de um falso.

Observando as personalidades. Jaime Baghá  -  inverno 1988

sábado, 9 de maio de 2020



DEBOCHE

O que me diferencia
Ora, o que me diferencia
Eu sou o que tu vê e pensa
Sou a diferença
O que procura e te atura.
Que provas me dão teus deuses
Tão maus
Eu sou o onipresente
Não tua onírica
Incógnita da tua imaginação
Tua inquietação.
Sou tua resposta vazia
Tua afasia.
Olho teus olhos
Preso no desterro
Procuro o erro
Sou o amanhã
Porque escrevo
A arte me faz diferente.
Você reza, ora, medita
Me inventa,
Me expulsa
Me explica
E naquilo que nunca viu, acredita.
Sua mente incompleta
Delira e não acerta
Não tem o devaneio louco
É fátuo
Eu, poeta.
Sou como você
Uma interrogação
Mas sou o que fica
O erro, a razão
Que expões a dor
Na despedida da amante
Risos largos
Em momentos de amor.
Sou o ser refinado
Impuro, comedido, gentil
Deixo levar-me aos láudanos
Um fauno senil.

Eu vanguarda
Você perdido
Dividido com nada
Entre prato e bispote
Pacóvio do meu mote.

Um dia de Augusto dos Anjos, com vontade de não mais beijar as bocas que escarram, um dia de deboche. – Jaime Baghá – primavera 1999