quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020



REBELDE

Eu fui o adolescente
Que fumou nas quebradas
De vida pra frente
De vida folgada
Nômade
Muito louco
A noite agitava
Anjo perdido
Das luzes negras
Cabelos compridos.

Eu fui adolescente
De caráter não ter
Que a sociedade “decente”
Somente ensinou
A valorizar o possuir
E a realização do prazer.

Eu fui adolescente
De todas as gangues
Amante da vida
Indecente
Das meninas perdidas
Das lutas de sangue.

Eu fui adolescente
De boa família
Respeitado vagabundo
Andar compassado
Olhar atrevido
Irado
Que queria o mundo.

Eu fui adolescente
Que amava as loucuras
De jeans e de gíria
De vida de rua
Que pirou e sonhou
E que o subterrâneo
Quase me levou

Eu fui adolescente
Fui anjo e diabo
Malvado inocente
Sem o mal
Não tirano
Apenas mais um
Garoto urbano.

Eu hoje adulto
Escapei pra pensar
Um pouco careta
Mas sem condenar
Diferente de muitos
De faces incoerentes
Esqueceram estes velhos
Que um dia na vida
Foram adolescentes.

Nos desvarios da juventude o melhor da vida. -  Jaime Baghá – primavera 1995



terça-feira, 11 de fevereiro de 2020



VOLTAS

O mundo deu muitas voltas
Eu fui menino
Moleque, comportado
Jovem e um maluco juvenil

Alegre e debochado
Me apaixonei, amei muito
Sofri e chorei pelas mortes e solidão
Ri à toa

Tomei champanhe e cachaça
Voei em jatos e Airbus
Andei em carro de boi
De navio e lombo de burros

O mundo deu muitas voltas
Eu sobrevivi às superfícies
Os subterrâneos das grandes metrópoles
Vivi os mares do norte e do sul

Amei marginais
Esnobei a aristocracia,
Comi Agulhinha com cerveja
No subterrâneo do Mercado Modelo

Naveguei no oceano numa escuna branca
Com um capitão preto
Reparti o lanche
Com o clandestino no porão do navio

Ancorei em ilhas
Mergulhei entre corais
Caçando lagostas com nativos
Entre peixes de cor de aquarela

O mundo deu muitas voltas
Eu entrei nos países latinos
Em noites de loucuras
Parando em pensões latinas

Dormi em haciendas
Na beira dos lagos
Em tendas de lonas
Olhando estrelas

Vivi rocks
Musicais de protesto
Fui radical
Político, rebelde

Irado, logrado
Traído, trapaceado
Tive família, vivi sozinho.
Muito mimado, sem carinho.

O mundo deu muitas voltas
E eu continuo nos delírios
Dos loucos pensamentos
Na vanguarda dos costumes

Achando velhos alguns jovens
E os velhos da minha idade
Novos são os mágicos
De pensamento e vontade

O mundo deu muitas voltas
Eu ouço antigas e novas canções
De um momento presente
Breve, que move as voltas do mundo.

Uma máquina do tempo
Que acelera o meu fim
Assim preencho esta existência
De poucas voltas

Com visões, lembranças
Sonhos e poesias
Embriagado de vida
E pensamentos sem fins.

Os meus caminhosJaime Baghá