domingo, 11 de março de 2012

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
o Estado
tinha uma pedra no meio do caminho
a Justiça
tinha uma pedra
a Miséria
no meio do caminho tinha uma pedra
a indiferença.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigada
louca, alucinada, medradas, esgazeadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
o abandono
tinha uma pedra no meio do caminho
a prisão
no meio do caminho tinha uma pedra
de Crack.

E agora José
Você que é sem nome
E tudo acabou
Não existe porta
Você marcha, Jose!
Jose, para onde?

Profanei a poesia de Drumond para ela não sair de moda, para ela ser a poesia da era das celebridades, (palavra infecta) blargh! Da mídia, Big Brothers, burros, chulos, Pânico e putarias. Dos políticos nojentos e suas confrarias, dos judiciários fedorentos e suas ignomínias, da sociedade alegoria, emergente, siliconada, esdrúxula e suas madames com botox e cara de bruxa, dos seus filhos violentos, bêbados, arruaceiros, internautas fofoqueiros, de parco ou nenhum conhecimento, formando o Brasil do futuro, pátria esperta, malandra, de políticos ladrões e cracolândias.
Jaime


"Uma sociedade frágil, roída, consumida e abastardada por infindáveis quarteladas e golpes de estado fascistas como o de 1964; politicamente corrupta, porque o dinheiro vem antes da comunidade e seu sentido; intelectualmente capacho, porque jamais conseguiu abandonar a subserviência desde a pronúncia até as principais ideias; popularmente servil, amansada duramente por séculos de crença, favores e milagres; secularmente injusta, porque a lei não pode jamais ser feita "para o pobre", pois é coisa de Classe e de Estado; capada e recapada até não restar senão um gemido ridículo, humilde e metido a besta; curvada e recurvada, batida e rebatida. Sobre esta massa podre (que é o povo, sempre o povo!) impera, momento sim momento não, cada fatia de um Poder qualquer: uma vez é o momento dos coronéis, depois dos tenentes, depois dos generais; chega o momento do imperador, do governador, do presidente, do prefeito; passa o momento dos estudantes, dos jovens, das modas e chega o momento das mídias; passa o momento dos senhores de terra e chega o momento dos senhores das fábricas; passa o momento do Executivo, chega o do Legislativo; passa o momento do narcotráfico chega o momento do Judiciário. Cada momento destes, que não passam e se completam e se interpenetram, é o Horror! A supremacia da ignorância, do fascismo, da brutalidade, da insensibilidade, da delação: o momento da lei, da ordem, da pátria, da terra, da bandeira, da tortura, do exílio, da cotidiana passividade: momentos que causam dor, causam angústia, causam descrédito."
Alberto Lins Caldas.