segunda-feira, 23 de março de 2015


Invasão da Favela - Eduardo Marinho


A MÃO INVISÍVEL**

Na favela
Após o jantar
O erudito
Da subclasse
Proscrito as artes
Sentou na varanda
Do parco barraco
Sentido a brisa
Foi ler um bom livro
Para entender
A mudança do mundo
Imundo
Do capital
E o poder neoliberal.

Lia para entender
A ferida
Foi morto
Por bala perdida
Melhor ter ficado
Ignorante
Na cama
Não se expor
A selva hobbesiana.*

Uma homenagem a Eric Hobsbawm – Jaime Baghá

*Thomas Hobbes 

** “A mão invisível” de Adam Smith e a mesma que rouba o teu bolso e que faz o marginalizado pelo estado apertar o gatilho.



Segunda Classe - Tarsila do Amaral


“A situação de carência vivida no quotidiano das massas, onde não há nenhuma ocorrência excepcional, onde o indivíduo tem de levantar-se cedo todas as manhãs, pegar um ônibus cheio, passar lá mais de uma hora, executar um trabalho maçante, relacionar-se superficialmente com os seus colegas de trabalho, ir cansado para casa, pegar outro ônibus cheio e viajar mais tanto tempo, chegar em casa, jantar, sentar-se diante da TV, cochilar e por fim dormir, para ter no dia seguinte tudo outra vez, por uma vida toda, essa vivência sem novidades, sem emoções, sem ocorrências que fujam do quotidiano retiram do sujeito o verdadeiro prazer de viver.”
Ciro Marcondes Filho.


1. Os funcionários não funcionam. Os políticos falam, mas não dizem. Os votantes votam, mas não escolhem. Os meios de informação desinformam. Os centros de ensino ensinam a ignorar. Os juízes condenam as vítimas. Os militares estão em guerra contra seus compatriotas. Os policiais não combatem os crimes, porque estão ocupados cometendo-os. As bancarrotas são socializadas, os lucros são privatizados. O dinheiro é mais livre que as pessoas. As pessoas estão a serviço das coisas.

2. Tempo dos camaleões: ninguém ensinou tanto à humanidade quanto estes humildes animaizinhos. Considera-se culto quem oculta, rende-se culto à cultura do disfarce. Fala-se a dupla linguagem dos artistas da dissimulação. Dupla linguagem, dupla contabilidade, dupla moral: uma moral para dizer, outra moral para fazer.

3. Quem não banca o vivo, acaba morto. Você é obrigado a ser fodedor ou fodido, mentidor ou mentido. Tempos de o que me importa, de o que se há de fazer, do é melhor não se meter, do salve-se quem puder. Tempo dos trapaceiros: a produção não rende, a criação não serve, o trabalho não vale. No rio da Prata, chamamos o coração de bobo. E não porque se apaixona: o chamamos de bobo porque trabalha muito.
Eduardo Galeano.

“A nossa vida social é agora dominada por restrições que o medo e a raiva impõem à liberdade. O medo e a violência restritiva podem tornar-se prazeres viciantes, reforçados por dirigentes esquizofrênicos e um sistema econômico que depende da restrição da liberdade, da produção de medo e do incitamento ao comportamento violento.”
Dr. Timothy Leary.

Glauber Rocha - Cineasta brasileiro


O sonho é o único direito que não se pode proibir. 
O sentimento de colaboração humana renova e revela uma nova categoria de indivíduo, mas é necessário para isso que a velha cultura seja revolucionada.
Nenhuma estatística pode informar a dimensão da pobreza. A pobreza é a carga autodestrutiva máxima de cada homem.
Na medida em que a desrazão planeja a revolução, a razão planeja a repressão.
A revolução é a anti-razão que comunica as tensões e rebeliões do mais irracional de todos os fenômenos que é a pobreza.
A revolução, como possessão do homem que lança sua vida rumo a uma idéia, é o mais alto astral do misticismo.
As revoluções se fazem na imprevisibilidade da prática histórica que é a cabala do encontro das forças irracionais das massas pobres.
A revolução é uma mágica porque é o imprevisto dentro da razão dominadora.
A cultura popular será sempre uma manifestação relativa quando apenas inspiradora de uma arte criada por artistas ainda sufocados pela razão burguesa.
A cultura popular não é o que se chama tecnicamente de folclore, mas a linguagem popular de permanente rebelião histórica.
O Povo é o mito da burguesia.
Glauber Rocha