sábado, 23 de abril de 2022

NA ESTRADA

 Para quem viveu intensamente e com todas as loucuras a vida na juventude, usou cabelo comprido, jeans, pegou uma estrada sem destino e sem compromisso, desconfiou do sistema e ama a liberdade. Para quem descobriu a poesia da geração Beat, devorou as poesias de Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs, Paulo Leminski e outros. Para quem descobriu o Jazz, vibrou com Woodstock e delirava com Janis Joplin, The Who, Jimi Hendrix, não pode perder o filme Na Estrada "On The Road", direção de Walter Salles, uma adaptação do clássico Beat de Jack Kerouac. A geração Beat foi a que encontrou seu próprio caminho, mesmo na contramão, foi um grupo entre o coletivismo social do anos 50 e o "faça você mesmo" dos anos 70. Eram iluminados que diziam não ao conformismo, nunca houve uma mudança igual e é improvável que venha a existir outro semelhante. Era uma geração culta e enlouquecida, mas como falou Rimbaud, ninguém é sério aos 17 anos. Se existe algo que tenho muitas saudades na minha juventude, foi esta vida de muita poesia e loucura, de descobrimentos e pé na estrada, de amigos que perduram até hoje, quem viveu sabe, quem não viveu que veja as histórias e os filmes acomodados no seu sofazinho. sds. Jaime Baghá,  ainda na contramão.

domingo, 17 de abril de 2022


HIPPIE

 Foi no tempo de aquários

Joplin, Hendrix

Crazy

Cantando, “Oh Fox Lady”

Na Praça

Eu

Vários

 

Roupas da “Boutique Lixo*

Liberdade

Paz e amor

Aos comportados, despudor

Gatas

Hippies

Bixos.

 

Encontro na Redenção

Dançando livre na praça

Paz, amor, contestação

Cabelos longos

Harmonia

A loucura vira arte

Eternamente jovem eu seria.

 

Nos belíssimos tempos de paz e amor. – Jaime verão 1970

 

*Boutique Lixo, era uma loja da década 70 em Porto Alegre, roupas extravagantes e psicodélicas como a década e muitas roupas militares vindo da guerra do Vietnã que a gurizada usava como forma de protesto a ditadura.

 

domingo, 3 de abril de 2022


 ERA UM GAROTO QUE COMO EU...

Eu tinha quinze anos e usava uma calça tão justa que o pé quase não podia entrar e alisava o meu cabelo para ficar parecido com os cantores da época, com uma franja que os meus cabelos crespos não ajeitavam. Namorava a filha da vizinha e íamos ao cinema na matinê assistir os filmes de John Ford com o John Wayne correndo para salvar a mocinha em perigo, ou os melosos filmes italianos do Gianni Morandi que fazia eu e a namorada encher os olhos de lágrimas de mãos dadas, ou com o riso solto com os filmes da Atlântida com Oscarito, Grande Otelo, Anselmo Duarte, Lana Bitencourt e gostava do seriado do Durango Kid que antecedia o filme. Festa era reunião dançante em casa, nas garagens embaladas por Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps, Beatles e outros.

Comecei a perder a inocência com a chegada do movimento Hippie e toda sua rebeldia e logo tínhamos o tropicalismo com suas letras inteligentes e questionadores. Nunca mais fui o mesmo, ia para o Parque da Redenção em P. Alegre me juntar aos Hippies e ver as meninas com suas roupas coloridas e flores nos cabelos dançar no gramado. Nunca mais fui o mesmo e meus cabelos puderam voltar ao normal, crespos, longos e desgrenhados eram um sucesso da moda, que combinavam com minha calça e jaqueta Lee que comprávamos de contrabando no cais do porto até a primeira  loja aparecer vendendo na cidade. Para estar mais ligado ao movimento comprávamos roupas na Boutique Lixo que segundo diziam, vinham de navios do Vietnã. Usávamos estas roupas militares americanas, para confrontar numa rebeldia a ditadura. Meu pai começou a ficar preocupado e os vizinhos falavam da moda, das danças esquisitas (separados), dos cabelos compridos, das roupas fora dos padrões e do cheiro de maconha nas esquinas.  Como os comportados ainda era a grande maioria, sentíamos que éramos uma espécie de privilegiados por entender as letras das músicas, dos horrores das mortes dos jovens na guerra do Vietnã. Éramos uma espécie que entendia os protestos e as letras que Chico Buarque estava cantando e se embalar com Janis Joplin e Hendrix. Alguns mais intelectualizados tinham um pé em Miles Davis, Charlie Parker e a poesia Beat. Eu nunca mais fui o mesmo e gostei muito de ter passado por isto, curtir Porto Alegre a noite, ir  no Bar Escaler no Bairro Bom Fim e apesar de bem jovem, conhecer a “Esquina Maldita” pra ouvir um pouco de política e de viver diferenciado numa época que me tornou diferente para todo o sempre e sem querer ser saudosista, acho que o mundo deveria ter continuado uma época de Aquarius, pois não acho legal este modernismo sem romantismo em que o cara já nasce transando e dando porrada

Pequena crônica  de um jovem feliz. Jaime Baghá