sexta-feira, 16 de outubro de 2020


 A PESTE

 Foi tanto a exploração

Que aceitei os enganos

Sorri para sofistas profanos

Aceitando a mendaz compaixão.

 

Foi tanto a necessidade

Que aceitei os carrascos

Os malditos, seus ascos

Contrariando minhas verdades.

 

Foi tanto a dor

Que caminhei cabisbaixo

Sem forças, fraco

Deturpando o amor.

 

Foi tanto a agonia

Que fiquei cúmplice ao erro

Inerte, amordaçado

Fez se escasso os meus dias.

 

Para ter em minha mesa

Disfarcei para meus filhos

Porque roubaram o meu brilho

E minha delicadeza.

 

Para continuar existindo

Fui um fantoche sem vida

Da esbórnia coletiva

E calei consentindo.

 

Para encenar estes atos

Atuei na ópera bufa

Misturei-me a turba

De poeta a palhaço.

 

Para sobreviver

Suprimi minha liberdade

Da infernal sociedade

Que impõe o sofrer

 

Assim devora o meu mundo

Quem de máscara se veste

E exorta toda a peste

Ao povoado latifúndio.

 Minha homenagem a “Peste” de Albert Camus -  Jaime Baghá -  outono de 2006

 A SUPRESSÃO DA MÁSCARA

 Neste teatro da vida, do cotidiano preconceituoso, do social que dissimula a existência real, procuro não usar a máscara da vergonha com medo dela grudar ao meu rosto e eu não mais conseguir arranca-la.

 

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