A PESTE
Que aceitei os enganos
Sorri para sofistas profanos
Aceitando a mendaz compaixão.
Foi tanto a necessidade
Que aceitei os carrascos
Os malditos, seus ascos
Contrariando minhas verdades.
Foi tanto a dor
Que caminhei cabisbaixo
Sem forças, fraco
Deturpando o amor.
Foi tanto a agonia
Que fiquei cúmplice ao erro
Inerte, amordaçado
Fez se escasso os meus dias.
Para ter em minha mesa
Disfarcei para meus filhos
Porque roubaram o meu brilho
E minha delicadeza.
Para continuar existindo
Fui um fantoche sem vida
Da esbórnia coletiva
E calei consentindo.
Para encenar estes atos
Atuei na ópera bufa
Misturei-me a turba
De poeta a palhaço.
Para sobreviver
Suprimi minha liberdade
Da infernal sociedade
Que impõe o sofrer
Assim devora o meu mundo
Quem de máscara se veste
E exorta toda a peste
Ao povoado latifúndio.
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