domingo, 16 de agosto de 2020

 

A OUTRA

 

Escuto o som dos teus passos

Sorrio como um ator

Sem nenhuma ilusão

Procuro personagens para meu disfarce.

 

Minha alegoria é hipócrita

E minhas verdades ilusórias

Você aparece na névoa da noite

A fantasia bate a minha porta

 

Gosto do seu tique

Da mania de assoprar o cabelo

Que cobre teus olhos

Felinos, certeiros.

 

Você na névoa

Na luz como chamas

Faz-me verdadeiro

Lasciva, estranha.

 

Abro os braços na noite

Na conformidade com o real

E você me abraça

Mancha minha camisa de maquiagem.

 

O batom vermelho tem sabor

Toco a cinta liga da saia de franja

Um velho passa com olhar de soslaio

E no reflexo vejo teu rosto lânguido.

 

Na esquina do beco

Quando a metrópole silencia

Na meia luz

A saia de franja pra cima.

 

Estranho amor

Somos iguais nos enganos

Sinto-te outra vez

Depois te abandono.

 

O amor de amantes, sem juras, sem compromisso, só o momento dos encontros.  Nos tempos de subterrâneos  -  Jaime Baghá -  Primavera de 1980


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