domingo, 15 de abril de 2012

O Maldito Céline não sai de moda, o texto abaixo mostra que tudo continua o mesmo, os dignos de vênia ajudam a lotar mais e mais prisões para que os "indignos" se comportem e fiquem quietinho no seu lugar de miséria. Enquanto os colossais do poder roubam, falseam, traem, mentem, destroem e recebem a benção da “justiça” e da “lei”, como os verdadeiros veniais, sempre trilhando os caminhos do poder com suas impunidades. Não parece bem com o Brasil?
Jaime

É verdade que estamos habituados a admirar todos os dias bandidos colossais, cuja opulência o mundo inteiro venera conosco e cuja existência se revela, porém, assim que examinamos um pouco mais de perto, um longo crime renovado todos os dias, mas essas pessoas gozam de glória, honrarias e poder, seus crimes são consagrados pelas leis, ao passo que tão longe quanto recuamos na história, e você sabe que sou pago para conhecê-la, tudo nos demonstra que um furto venial, e mais ainda, de alimentos ordinários, tais como massas, presunto ou queijo, atrai inevitavelmente para seu autor o opróbrio formal, o repúdio categórico da comunidade, os castigos maiores, a desonra automática e a vergonha inexpiável, e isso por duas razões, primeiro porque autor de tais atrocidades é em geral um pobre e que este estado implica em si mesmo uma indignidade capital, e depois porque seu ato comporta uma espécie de crítica tácita à comunidade. O roubo do pobre torna-se uma maliciosa reapropriação individual, está me entendendo?... Onde é que iríamos parar? Assim, a repressão aos pequenos furtos se exerce, repare bem, em todas as latitudes com rigor extremo, não só como meio de defesa social, mas ainda e sobretudo como uma recomendação severa a todos os pobres coitados para que se mantenham em seu lugar e em sua casta, sossegadinhos, alegremente conformados em morrer ao longo dos séculos e indefinidamente de miséria e de fome...

Louis-Ferdinand Céline

Nenhum comentário: