Vista de cima do Morro das Mortes |
Assobiando um
blues
Amanhece no
tranquilo lugarejo das Mortes
Eu assobio um
blues
O velho leiteiro
passa com seu cavalo magro e manco
O louco asmático
em transe manca
Cantando em bom
tom canções bas fond.
O sino badala o
despertar
O policial magro
passa com seu carro negro
Parece um vilão
de Chester Gould
Perseguindo
meninos malucos
Agroboys
ensandecidos.
Os verdadeiros
malucos passam
Com seus bigodes
aparados
E suas esposas
hipocondríacas
Seus filhos bem
nutridos
Com suas
bugigangas eletrônicas
Posando como
figuras opulentas
Com adornos
ultrapassados.
Quem não acordou
faz amor
Antes de se
indispor
Tocando naquela
ferida
Esmorecendo
aquela indigesta relação
Separando sem
nenhum perdão.
Pronto!
Mais dois
solitários nos dias de festas
Dos bons samaritanos
Das religiões
diversas
Onde abandonados
procuram amparo
Na fila da
desolação.
Mais personagens
no cenário surreal
Da língua infame
Dos confrades do
banco do veneno
Com suas
zombarias fúteis
Destilando seus
malogros
Das suas vidas
inúteis.
O causídico
paranóico
Disfarça um
caminhar elegante
Com sua falta de
vida
Seus pecados
Sua vileza
E sua vida
perdida.
O andarilho
passa
Com cara de feliz,
senil e inseguro
Cheirando a
aguardente
Diz que vai
ganhar o mundo
E é uma estrela
de um palco escuro.
O homem da loja
que caçoava
Esta sem rumo
Tornou-se um
personagem de sua derrisão
Agora prova seu
veneno
Seus personagens
lhe fazem escárnio.
O velho assexuado
esta feliz
Mas ainda sofre
de chiliques
Esta a serviço
do politiquês
É um adulador
aprendiz.
O auto-falante
passa
Abusado,
grasnando
Gritando sobejos
Tocando músicas
triviais
Insanidades a
varejo.
Pessoas tristes
Na fila da saúde
Senhoras com
palpitações
Homens macambúzios
Pensando em
ataúdes.
Os meninos
caminham
Para a máquina
de moer
Com suas
mochilas descomunais
Entre as paredes
da escola
Descobrem pouco
saber
Mas aprendem a
jogar bola.
As ambulâncias
partem
Em busca da
sorte
Levando o
mórbido
E a mulher do
fricote.
Seu companheiro
que vagueia nos bares
Anseia a noite
para os destilados
Bisbilhotar o
alheio
Entre risos,
algazarras e carteados.
O Rei esta nu
A corte finge
não ver
Felizes nos
rega-bofes
Vaidosos no
poder
Vassalos vivem a
anomalia
Perdem status e
conceitos
Com parcas
economias
Dias de festas
Toada, salmos e
destilados
Esbórnia e
pequenas arestas
Demodés
políticos perfilados
Orgias e pouca
cultura
O grande circo
esta armado
Panis et
circenses
Para o simples e
bom camponês
Ver o mesmo
diferente
Eu visto minha
jaqueta verde
Caminho pelas
ruas dos ingênuos
Assobiando um
velho blues
Compassando as
notas
Na manhã
desafinada
Vivendo nos
sonhos.
Sou uma sombra
Com um sorriso
idiota.
Jaime Baghá , mais um personagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário