A CULTURA
PERDIDA
Um dos grandes filósofos, Voltaire,
nunca fez notas de rodapé, eu o faço porque não tenho a grandeza de Voltaire e
esqueço alguma coisa na hora em que mais preciso. Porém sou ousado como
Friedrich Nietzsche, este mesmo que ousou matar o deus inventado dos homens e
acabar com o dualismo imbecil que faz os homens pensar em rebanho, mas na
verdade vive a solidão de sua mesquinhez, na sua ignorância classifica o outro,
aponta como fosse ele o certo.
Albert Einstein quando escreveu a teoria
da relatividade, seria reprovado em alguns colégios e universidades, apenas
porque as medidas do seu texto não eram iguais as da norma reinante, como se
métrica e mancha de texto fossem essenciais para a compreensão de um conteúdo.
Eu como conteúdo crítico e inviso pela
“nossa elite cultural provinciana”, incomodo mais uma vez ao dizer que nossos
centros de educação esquecem rapidamente a etimologia do seu próprio nome, não
buscando a cultura com quem a conhece, talvez por medo de que a ajuda pode
ofuscar a parca luz (se é que ela existe), que este dinossauro do ensino pensa
em possuir.
O motivo principal da formação de uma
confraria exclusiva se alternando no poder é justamente a falta de uma
abrangência literária e cultural, por preguiça ou acomodamento, achando desta
forma um incômodo ou mesmo falta de visão, revolucionar a sociedade onde vive
para o conhecimento. Através de convites e colaboradores, ou mesmo dar mais
liberdade para novos professores que vivem apagados, porque não podem se
manifestar e abrir-se todo para o seu potencial castrados pelo sistema que os
persegue devido a uma falta de visão de vanguarda.
Estes educadores acossados, vão acabar
igual ao velho dinossauro, obedientes ao sistema, acostumado ao salário
miserável, posição do social do “tudo bem”, privando desta forma o aluno para
um conhecimento mais abrangente, e maior conquista para o advento de mercado.
Venham para o futuro, diz o lema da
escola, quando deveria ser, venham debater com a gente se existe e o que é o
futuro. Faça a escolha certa diz outro lema, enquanto deveria ser, venha
debater o conceito de certo e errado. Dentro da grande razão do professor
dinossauro isto não existe, porque ele pensa que faz o trabalho da verdade, esquece-se
da fabricação de dúvidas e de levar o aluno ao autoquestionamento.
Não se aprende mais filosofia (aqui na
província, filosofia é uma piada, trocada por ridículas aulas de criacionismo),
não se quer saber de literatura, todos se lixam para a sociologia. Isto vai
acabar em prédios horrorosos no nosso cotidiano, pois o engenheiro não tem
nenhuma formação social, o advogado vai ser um rábula ou mau juiz, pois nunca
leu Kafka. Precisamos de engenheiros que saibam escrever, sociólogos que tenham
lido Dostoievski, de professores que tenham se deliciado com Rimbaud, viajado
com Fernando Pessoa, precisamos mesmo é de profissionais e educadores que
tenham lido Marx, que saibam quem foi Hobsbawn, conheçam Zygmunt Bauman, Ezra
Pound, obras de Machado de Assis, textos de Clarice Lispector, Saramago, poesias
de Ferreira Gullar. Não daquela maneira decorativa encima de um escritor, a
aula toda de Jose de Alencar, numa sabedoria maçante e decorada que causa sono
nos alunos.
Esta preguiça e falta de perspectiva do
professor jurássico, vai fazer muitos desistir do estudo e do verdadeiro
conhecimento e os que sobrarem, numa minoria, vai ser apenas técnico de mercado
ou mais um professor mal preparado.
Já estamos tendo uma sociedade de
tecnicistas, esta coisa que ninguém sabe exatamente o que é despreparado para
uma vida social e cultural, vivendo nas confrarias políticas de atraso para
segurar o seu vil metal e sua “posição” na sociedade decadente, individual e
perniciosa. Este acadêmico inculto não sabe compreender uma arte, não adianta
ir a um teatro, pois não vai entender a peça, até desconhece o autor.
Não conseguem ler um verso de Drumonnd,
não entendem o “Humano demasiadamente humano de Nietzsche”, “O Homem Revoltado”
de Camus, a visão política de Bertolt Brecht, não tem preparação intelectual
para a crítica e a autocrítica com propriedade para compreender e separar
discursos, para saber votar, para formar opinião, para se rebelar contra a
insanidade prosaica da política, para aceitar seu semelhante diferente, sem
rotular, enfim, para questionar até quem é, de onde veio e para onde vai, como
fez num quadro o pintor Paul Gauguin.
Sugiro (se é que vai adiantar a
sugestão), buscar na sociedade por pessoas de conhecimento, desde o nativo
interiorano com suas essências naturais e histórias do folclore, até o mais
louco poeta (ou quem pensa que é), o intelectual ou qualquer pessoa que
representa alguma forma de arte. Abram as oficinas, pois tenho a certeza que
vai ajudar a formar gente com mais compreensão de sua realidade, independente
se ele continue agricultor ou fique com qualquer outra atividade. Seja um
operário ou com uma formação acadêmica, o fato é que vai haver uma mudança, um
novo autoquestionamento. Mas isso a sociedade não vai cobrar nunca, só quem
pode mudar é o seu próprio discurso, é seu pronunciante com a visão cultural,
amparada por verdadeiros mestres, aquele que muda, inova e aceita o
conhecimento, sem o desdém da oligarquia burra na sua redoma antiga,
conservadora, hipócrita e acomodada.
Os jovens vão parar de fazer cenas de
filmes trash americanos, pois vão conhecer os dramaturgos e quem sabe até peças
de Shakespeare, Artaud, Ionesco, Plinio Marcos, Jose Celso Martinez, Augusto
Boal, Nelson Rodrigues, etc... Quem sabe exista mais liberdade da poesia
atingir toda a sua dimensão e todas as suas linhas com mais recursos
literários, com certeza sairemos daqueles concursos enfadonhos de versinhos e
de amor exacerbado com cheiro de orgasmo no ar. Nesta sociedade temos jovens de
grandes qualidades, mas que necessitam de mentores com qualidade.
Jaime Baghá - Na linda
província, achando um desperdício de talentos castrados pela ignorância.
“É difícil evitar que nossas visões mais elevadas
pareçam loucuras e por vezes até crimes, quando chegam a ouvidos que não são
capazes de compreendê-las”.
Friedrich
Nietzsche
"Nós vos pedimos com insistência
não digam nunca:
isso é natural!
diante dos acontecimentos de cada dia
numa época em que reina a confusão
em que corre o sangue
em que o arbítrio tem força de lei
em que a humanidade se desumaniza
não digam nunca:
isso é natural!
para que nada possa ser imutável!"
isso é natural!
diante dos acontecimentos de cada dia
numa época em que reina a confusão
em que corre o sangue
em que o arbítrio tem força de lei
em que a humanidade se desumaniza
não digam nunca:
isso é natural!
para que nada possa ser imutável!"
Bertolt Brecht
Luta de Classes - Antônio Berni, pintor argentino |
"Em lugar de comunicar-se, o educador faz
"comunicados" e depósitos que os educandos, meras incidências,
recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção
"bancária" da educação, em que a única margem de ação que se oferece
aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los. Margem
para serem colecionadores ou fichadores das coisas que arquivam. Educador e
educando se arquivam na medida em que, nesta destorcida visão da educação, não
há criatividade, não há transformação, não há saber. Só existe saber na
invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os
homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros".
Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido.
Os países pobres são subdesenvolvidos não por
razões naturais - pela força das coisas - mas por razões históricas - pela
força das circunstâncias.Circunstâncias históricas desfavoráveis
principalmente o colonialismo político e econômico
que manteve estas regiões à margem do processo da economia mundial em rápida
evolução.
Na verdade, o subdesenvolvimento não é a ausência
de desenvolvimento, mas o produto de um tipo universal de desenvolvimento mal
conduzido. É a concentração abusiva de riqueza - sobretudo neste período
histórico dominado pelo neocolonialismo capitalista que foi o fator
determinante do subdesenvolvimento de uma grande parte do mundo: as regiões
dominadas sob a forma de colônias políticas diretas ou de colônias econômicas.
Esta tremenda desigualdade social entre os povos divide economicamente o mundo em dois mundos diferentes: o mundo dos ricos e o mundo dos pobres, o mundo dos países bem desenvolvidos e industrializados e o mundo dos países proletários e subdesenvolvidos. Este fosso econômico divide hoje a humanidade em dois grupos que se entendem com dificuldade: o grupo dos que não comem constituído por dois terços da humanidade, e que habitam as áreas subdesenvolvidas do mundo, e o grupo dos que não dormem, que é o terço restante dos países ricos, e que não dormem com receio da revolta dos que não comem.
Ora, o problema do subdesenvolvimento não é exclusivo destes países; é antes um problema universal, que só pode ter soluções igualmente em escala universal. Viver na opulência, num mundo em que 2/3 estão mergulhados na miséria, não é apenas perigoso, é um crime. A tensão social na qual se vive hoje é, na maior parte das vezes, o produto desta conhecida injustiça social, já que os povos dominados tomaram consciência da realidade sócio-econômica do mundo.
Esta tremenda desigualdade social entre os povos divide economicamente o mundo em dois mundos diferentes: o mundo dos ricos e o mundo dos pobres, o mundo dos países bem desenvolvidos e industrializados e o mundo dos países proletários e subdesenvolvidos. Este fosso econômico divide hoje a humanidade em dois grupos que se entendem com dificuldade: o grupo dos que não comem constituído por dois terços da humanidade, e que habitam as áreas subdesenvolvidas do mundo, e o grupo dos que não dormem, que é o terço restante dos países ricos, e que não dormem com receio da revolta dos que não comem.
Ora, o problema do subdesenvolvimento não é exclusivo destes países; é antes um problema universal, que só pode ter soluções igualmente em escala universal. Viver na opulência, num mundo em que 2/3 estão mergulhados na miséria, não é apenas perigoso, é um crime. A tensão social na qual se vive hoje é, na maior parte das vezes, o produto desta conhecida injustiça social, já que os povos dominados tomaram consciência da realidade sócio-econômica do mundo.
Cada vez se pergunta com mais insistência se
desenvolver-se significa desumanizar-se, nesta frenética busca de riqueza, de
acordo com a fórmula preconizada pelo ocidente de maximizar os lucros em vez de
maximizar as energias mentais que enriquecem com mais rapidez a vida dos homens
e podem dar-lhes muito mais felicidade.
Josué de Castro
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