Segunda Classe - Tarsila do Amaral
“A situação de carência vivida no quotidiano das
massas, onde não há nenhuma ocorrência excepcional, onde o indivíduo tem de
levantar-se cedo todas as manhãs, pegar um ônibus cheio, passar lá mais de uma
hora, executar um trabalho maçante, relacionar-se superficialmente com os seus
colegas de trabalho, ir cansado para casa, pegar outro ônibus cheio e viajar
mais tanto tempo, chegar em casa, jantar, sentar-se diante da TV, cochilar e
por fim dormir, para ter no dia seguinte tudo outra vez, por uma vida toda,
essa vivência sem novidades, sem emoções, sem ocorrências que fujam do
quotidiano retiram do sujeito o verdadeiro prazer de viver.”
Ciro Marcondes Filho.
1. Os
funcionários não funcionam. Os políticos falam, mas não dizem. Os votantes
votam, mas não escolhem. Os meios de informação desinformam. Os centros de
ensino ensinam a ignorar. Os juízes condenam as vítimas. Os militares estão em
guerra contra seus compatriotas. Os policiais não combatem os crimes, porque
estão ocupados cometendo-os. As bancarrotas são socializadas, os lucros são
privatizados. O dinheiro é mais livre que as pessoas. As pessoas estão a
serviço das coisas.
2. Tempo dos camaleões: ninguém ensinou tanto à humanidade quanto estes
humildes animaizinhos. Considera-se culto quem oculta, rende-se culto à cultura
do disfarce. Fala-se a dupla linguagem dos artistas da dissimulação. Dupla
linguagem, dupla contabilidade, dupla moral: uma moral para dizer, outra moral
para fazer.
3. Quem não
banca o vivo, acaba morto. Você é obrigado a ser fodedor ou fodido, mentidor ou
mentido. Tempos de o que me importa, de o que se há de fazer, do é melhor não
se meter, do salve-se quem puder. Tempo dos trapaceiros: a produção não rende,
a criação não serve, o trabalho não vale. No rio da Prata, chamamos o coração
de bobo. E não porque se apaixona: o chamamos de bobo porque trabalha muito.
Eduardo Galeano.
“A nossa vida social é agora dominada por
restrições que o medo e a raiva impõem à liberdade. O medo e a violência
restritiva podem tornar-se prazeres viciantes, reforçados por dirigentes
esquizofrênicos e um sistema econômico que depende da restrição da liberdade,
da produção de medo e do incitamento ao comportamento violento.”
Dr. Timothy Leary.
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Glauber Rocha - Cineasta brasileiro |
O sonho é o único direito
que não se pode proibir.
O sentimento de colaboração humana renova e revela uma nova categoria de
indivíduo, mas é necessário para isso que a velha cultura seja revolucionada.
Nenhuma estatística pode informar a dimensão da pobreza. A pobreza é a carga
autodestrutiva máxima de cada homem.
Na medida em que a desrazão planeja a revolução, a razão planeja a repressão.
A revolução é a anti-razão que comunica as tensões e rebeliões do mais
irracional de todos os fenômenos que é a pobreza.
A revolução, como possessão do homem que lança sua vida rumo a uma idéia, é o
mais alto astral do misticismo.
As revoluções se fazem na imprevisibilidade da prática histórica que é a cabala
do encontro das forças irracionais das massas pobres.
A revolução é uma mágica porque é o imprevisto dentro da razão dominadora.
A cultura popular será sempre uma manifestação relativa quando apenas
inspiradora de uma arte criada por artistas ainda sufocados pela razão
burguesa.
A cultura popular não é o que se chama tecnicamente de folclore, mas a
linguagem popular de permanente rebelião histórica.
O Povo é o mito da burguesia.
Glauber Rocha
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