Mergulho na Ilha de Itaparica - BA
EU E O MAR
Nasci na beira do mar de Torres, no Rio
Grande do Sul. As primeiras e vagas lembranças são do meu pai puxando um
carrinho de madeira comigo dentro que ele chamava de Cadillac, foi meu pai mesmo quem construiu. Nestes passeios quase diários nos fins
de tardes dos finais de semana, meu pai corria puxando o carrinho nas
pequenas ondas que vinham na beira da praia para eu ver a água levantar com a
velocidade e molhar-me com os pequenos respingos, causando meu divertimento. Eu era
muito menino, mas foram fatos tão marcantes e belos que se eternizaram na minha
mente, tenho guardado uma foto dirigindo o meu Cadillac.
Muito cedo fomos morar em Porto Alegre,
mas sempre vínhamos no final do ano passar as férias no mar de Torres, e em
Santa Catarina. Era um tempo em que vir para o mar era coisa de veranista. Quando
fiquei mais independente fui para o mar de mochila nas costas, logo estava
pegando uma estrada de moto com amigos e namoradas e as vindas para o mar se
tornaram mais constantes.
Em nossos roteiros sempre iniciávamos
por Torres-RS, dali íamos para Santa Catarina. Nossa primeira parada começava em
Laguna, no Farol de Santa Marta, o lugar além de belíssimo tinha muita
liberdade e um bom peixinho no Bar do Seu Valdir. Algumas vezes parávamos em
Itapirubá, mas nossa preferida era a Praia do Rosa, a mais linda, com uma
natureza belíssima e frequentada por um pessoal muito legal, berçário natural
das baleias, muito verde ao lado da Lagoa da Ibiraquera, uma lindíssima área de
preservação. Gostava (e ainda gosto) de ir ao Rosa Sul e conversar com os
pescadores e ouvir os “causos” do Seu Anastácio, pescador antigo do local.
Do Rosa íamos à Ferrugem, Garopaba,
Guarda do Embaú e Florianópolis. Em Floripa tenho minhas praias preferidas, dar
uma volta na Lagoa da Conceição, ir à Barra da Lagoa mergulhar perto dos
costões, e para ir com uma agradável companhia nada supera o Matadeiro, minha
preferida na ilha.
Após os vinte anos, criei asas e voei para
outros mares, começando no Rio de Janeiro, achando praias belíssimas como Copacabana,
Ipanema e Leblon. Mas, o legal era ir para a Praia do Pepino, ali no finalzinho
do São Conrado, este era o point com um lindo visual da Pedra da Gávea e um mar
muito azul e suas areias bancas. Gostava do pessoal maneiro que frequentava
esta praia.
Outra legal era ir para Arraial do Cabo,
ótimo para uns mergulhos e lugares fantásticos, como a Prainha, Gruta Azul e
Pontal do Atalaia. Dali, ia até Búzios e passava na Praia dos Ossos para ir na
Praia da Azedinha e suas areias cor de caramelo.
Achei belíssimo Porto Seguro, na Bahia,
em especial Arraial D’Ajuda. Outra praia que gostei foi Porto de Galinhas, em
Ipojuca, no Pernambuco, estas eram mais legais antes da loucura do turismo. Morei
com uns amigos no Recife, na beira da Praia da Boa viagem, onde gostava de tomar
uma água de coco e conversar com o pessoal das jangadas e o pessoal nativo. À
noite curtia os barzinhos e constantemente ia para Olinda, onde tinha amigos, e no
carnaval saia num bloco chamado “Segura a Coisa”. Outra praia inesquecível é Canoa
Quebrada no Ceará, com suas falésias e Dunas e onde aconteciam os mais lindos
luaus.
Quando morei em Salvador-BA, gostava de caminhar
na Praia de Amaralina, comer um acarajé no Jardim de Alá ou dar um pulo na
Praia do Forte, e depois em Arembepe curtir uma paz na Aldeia Hippie e ver o Projeto
Tamar, que estava iniciando. Porém, meu local preferido em Salvador era Ilha de
Itaparica, mais precisamente na Penha, no Mar Grande, perto das ruínas do Forno
de Cal. Ali eu passava manhãs mergulhando entre os corais e algumas vezes ajudava os nativos locais a pegar lagostas. Para
o descanso maior, ia para a tranquilidade da Praia do Berlinque via estrada
Cacha Pregos, onde gostava de ir com a namorada que levei para Salvador, a qual
eu vesti de baiana e me casei, sou um soteropolitano de coração por esta magia
vivida.
Há, ia esquecendo-me de um lugar muito
especial e muito nosso, que é o Mar da Solidão, na Praia da solidão, onde o
próprio nome já o define. Com suas praias paradisíacas, desertas e seus faróis
tristes, um lugar ótimo para pescarias e caminhadas, mas com um mar algumas
vezes muito furioso, onde você anda por quilômetros sem ver alguém, a não ser
algum pescador solitário. Esta praia fica no município de Mostardas-RS, onde
fica o Farol da Solidão, dali até o Farol de Tavares-RS, é um lugar de muita
paz e tranquilidade onde só se ouve o barulho do mar e os albatrozes. Mostardas
fica num istmo formado pela Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico, é um lugar
lindíssimo de campos e lagos, muitos açudes e local de parada de aves
migratórias.
Cruzei por muitos caminhos e andei por
muitos mares do Brasil, aqui citei só os principais, andei por alguns cantos da
América Latina. Virei funcionário de gravata, preso numa sufocante sala de um
edifício de uma metrópole. Amo Porto Alegre, mas um dia arranquei aquela roupa,
joguei fora aquele molho de chaves (parecia um carcereiro), peguei mulher e
filho e fui viver no interior, bem perto do mar, com os parentes me chamando de
louco por abandonar a metrópole e o lindo e promissor emprego. Optei pela
qualidade de vida, fui fazer o que sempre sonhei construí uma casa do meu jeito
com muita madeira, com pés de Ipês floridos, palmeiras Juçaras, árvores
frutíferas, muita Pitanga, Araçás, Uvas, Butiá, Romãs, Bromélias e Orquídeas.
Vivo muito feliz e de vez em quando vou olhar
o mar dos alcantis, caminhar molhando os meus pés no mar, lembrando meu pai e o
meu cadilac que ele puxava por sobre as ondas que batem na beira da praia.
Voltei para o meu mar, o Mar de Torres, onde ficou meu umbigo e um dia ficarão
meus restos, quando chegar o fim desta curta, mas fantástica viagem chamado
vida, a qual eu acho que para valer a pena, nada é igual do que a vida na beira
do mar. “Ver na vida algum motivo prá sonhar, ter um sonho todo azul, azul da
cor do mar...”.
Jaime Baghá,
Que sempre
achou que o mar é de quem o sabe amar e a felicidade é um fim de tarde olhando o
mar!
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