Banksy |
REALITY
SHOW
Bem
vindo ao reality show mundial, onde o rebanho é conduzido pelos tiranos da
oligarquia internacional. Subjugados pela abstração financeira, onde política e
mídia surgem do mesmo DNA, como diz Simon Shaheen.
Para
toda a ilusão continuar aparece o assistente, o iluminador, o editor, o
produtor, o apresentador e o diretor para dizer o que vai ao ar.
Em
Israel as pessoas vão às ruas para protestar pela alta do queijo Cottage,
pelo time de basquete que ganhou a copa, mas ninguém vai às ruas para falar o
que acontece aos pacatos palestinos dos territórios ocupados, com suas casas
demolidas, seus santuários profanados, suas oliveiras danificadas, com seus
civis assassinados num apartheid odioso.
Quanto
menos dinheiro você tem, menor é a liberdade. Então, você só pode sonhar nas
narrações da ficção ou no fanatismo dos gritos e do histerismo religioso, na
caixa do seu Deus Sony ou num “templo” ao lado da tua casa. Toda a loucura e
toda a violência está se tornando banal, nada representa as mortes dos
miseráveis e dos perseguidos com fome, refugiados sem a proteção da ONU, que
perdeu a moral. Milhares que atravessam
os mares buscando amparo na Europa, que enriqueceu saqueando suas riquezas e
hoje lhes fecham suas portas.
Em
cada tragédia lá esta a equipe, com o iluminador e o editor para o show,
mostrando os belicistas parecerem comprometidos com a paz, enquanto as vítimas
são apresentadas como os algozes e protagonistas dos conflitos.
Acho
que somos culpados pela própria tutelagem do faz de conta, uma tutelagem fantasiosa,
um embuste, uma ilusão imposta pelos mais poderosos que, com mão de ferro e a
propaganda, fazem com que os seres humanos obedeçam sem fazerem uso da razão.
Vejam os americanos com seu terrorismo destruidor. Eternamente em guerra, eles saqueiam,
invadem, matam e conspiram em todos os governos, mas são apresentados como
heróis das telas, pelas mãos do iluminador, do editor, do diretor e do produtor,
novamente.
Não
existe muita oportunidade, a justiça não se iguala a todos, ela tem lado. Com o
reality shows até alguns ratos da esquerda se agarram à pretensão consumista, à
alegria imediata, à promessa burguesa de felicidade, de serem a celebridade
(argh) da telinha. Enquanto a globalização do capital devasta o planeta, lá vem
a equipe, o iluminador, o apresentador, o editor, o diretor, etc...
O
mundo tornou-se um lugar pequeno e todos os vícios estão perto de casa e todo
mal muito próximo. Como disse Orwell, “vivemos numa época de mentiras
universais, dizer a verdade é um ato revolucionário”.
Mas
isso já vem de muito tempo, Theodor Adorno já tinha visto que Hitler nasceu em
um programa de rádio, acho que num comercial de cerveja. Quando Adorno foi para
os EUA fugindo do nazismo trabalhar com Horkheimer, viram a comunicação de
massa nascer com o cinema, em 1910, daí escreveram o texto “Indústria Cultural,
o esclarecimento como mistificação das massas”. Walter Benjamin também percebeu
conforme seu texto, “A obra de arte na era de sua reprodutilibidade técnica”,
de 1936. Foi o começo e o problema da indústria cultural.
Quando
escreveram em 1944 a “Dialética do Esclarecimento”, Adorno e Horkheimer
perceberam que a cultura estava sendo deformada. A equipe com o apresentador, o
editor, o diretor e outros, já preparavam a “cultura de massas”, no qual, o
indivíduo teve o seu pensamento reduzido e direcionado a viver mais para a
sociedade de consumo, manipulados pela política, legitimando a sociedade capitalista,
que garante o alcance do sucesso para bem poucos e os sonhos para muitos. “Já
nenhuma ideologia política é capaz de inflamar as multidões, a sociedade
pós-moderna não tem mais ídolos ou tabus, já não tem uma imagem gloriosa de si
mesma, um projeto histórico mobilizador, hoje em dia é o vazio que nos domina.
Mas é um vazio sem tragédia, sem apocalipse”, escreveu o filósofo francês
Gilles Lipovetsky.
O
Brasil a terceira sociedade mais desigual do mundo segundo a ONU, está se
tornando um país podre, não por um presidente ou por uma crise econômica, mas
por grupos de interesse, vende-pátria, políticos fisiológicos de plantão que
legalizaram a contribuição de empresas para suas campanhas. Criminosos da lei
que deveriam nos proteger. Togados intocáveis, judiciário vergonhoso com seus
salários escandalosos e milhões de privilégios sem escrúpulos, amparados por
suas próprias leis e pela mídia. Atualmente uma força conservadora corrupta que
se mostram como defensores da sociedade, mas, querem manter estruturas
desiguais e discriminatórias, querendo fazer da ética seu estandarte.
O
neoliberalismo nos colocou no interregno, vamos torcer para que ele não vença,
porque será sem sombra de dúvida um mundo de exclusão. Em que, seremos apenas
mercadorias no mundo globalizado nas mãos das corporações e sua mídia
controladora do rebanho.
Não
troque o quadro do teu herói latino americano da parede por uma do Milton
Friedman, não confie numa doutrina que não atenda as necessidades básicas dos
cidadãos. Immanuel Kant ficaria horrorizado de ver aonde foi parar o “homem que
saiu da menoridade” porque agora, pior do que antes do iluminismo, os homens
vivem sobre a direção e ganância de poucos para um processo destrutivo de
muitos.
Desconfie
destes porcos, pois é para eles que chega à tua casa o iluminador, o editor,
produtor, apresentador, o diretor e até um repórter canalha, dando chutes e
rasteiras nos sofridos como Pietra Laszio, para decidirem o que vai ao ar, para
mostrar “A Montanha dos Abutres”: o reality show da tua tragédia diária, para
os bobos do sofá que fazem parte das estatísticas do horário “nobre”.
Jaime
Baghá - indignado
lendo Eugênio Bucci.
A massa mantém a marca
A marca mantém a mídia
A mídia controla a massa.
George
Orwell.
Os poetas ancestrais animizaram, com
Deuses ou Gênios, todos os objetos sensíveis chamando‐os por nomes.
Os adornando com as propriedades de
bosques, rios, montanhas, lagos, cidades, nações e com o que quer que seus
numerosos e aguçados sentidos pudessem perceber.
E eles estudaram especialmente o gênio de
cada cidade e
país, colocando-o sob sua deidade
mental;
Até que um sistema foi formado e
alguns tiraram vantagem dele e escravizaram o vulgar ao conseguirem perceber ou
extrair as deidades mentais dos seus objetos: assim começou o Sacerdócio;
Escolhendo formas de adoração a
partir de narrativas poéticas.
E finalmente eles anunciaram que os
Deuses tinham ordenado tais coisas.
Assim os homens esqueceram que todas as
deidades habitam o peito humano.
William Blake.
Nós vos
pedimos com insistência:
Nunca digam - Isso é natural
Diante dos acontecimentos de cada dia,
Numa época em que corre o sangue
Em que o arbitrário tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza
Não digam nunca: Isso é natural
A fim de que nada passe por imutável.
Berthold Brecht.
Você
nunca tentou saber como um cérebro está organizado?... O aparelho que o faz
pensar? Hein? Mas claro que não! Não lhe interessa nem um pouco!... Precisa
convencer-se, sinceramente, de que a desordem é a essência da nossa própria
vida! De todo o ser físico e metafísico! É a sua alma... milhões, trilhões de
circunvoluções... intrincadas, em profundidade, cinzentas, recortadas,
mergulhantes, subjacentes, evasivas... Ilimitadas! Esta é a Harmonia! Toda a
natureza! Uma fuga do imponderável e não passa disso... Ponho ordem em meus
pensamentos; não substituo essa tarefa por outras, materialistas, negativas,
obscenas... É preciso procurar o essencial! Você vai, por causa disso, cair em
cima do seu cérebro, corrigi-lo, descascá-lo, mutilá-lo, forçá-lo a obedecer a
regras obtusas? À faca geométrica? Refazê-lo, crucificá-lo às limitações da
burrice?... Armá-lo em camadas como um bolo de aniversário? Com uma pedra
dentro! Hein? Responda. Com toda a sua franqueza. Que tal? Seria bom?
Interessante! Iria coroar tudo!... É a grande desordem que importa! Os
pensamentos prósperos! Tudo tem seu preço... Depois que passa a oportunidade,
acabou-se!... Você vai ficar, infelizmente, firme na sua lixeira da razão para
sempre! O míope, o cego, o absurdo, o surdo, o maneta o palerma! É você que vem
perturbar a minha desordem com esses seus pensamentos depravados... A Harmonia
é a única alegria do mundo, a única liberdade, a única verdade. Em ordem!
Merda! Em ordem! Habitue-se à Harmonia e a Harmonia descerá até você! E você
achará tudo o que procura há muito tempo nos caminhos do Mundo... E muito mais!
Uma emboscada inútil de armários! Uma barricada de folhetos! Uma vasta
empreitada humilhante! Uma necrópole de mapas! Não sente a vida pululando,
fremindo!? Ponha a mão só um pouquinho, um dedinho que seja... Tudo se agita!
Vibra no mesmo instante! Está tudo prestes a se lançar, florescer,
resplandecer... Não me acho com direito de dizer-te o que é... Muito menos de
reduzir, corrigir, corromper, cortar, separar... Hein!?... Aonde é que eu ia
achar esse direito? No infinito, na vida das coisas? Não, não é natural, são
manobras infames!... Eu continuo em paz com o universo, deixo-o assim como
encontro... Não o retificarei nunca!
Louis-Ferdinand Céline
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