“Cada um vive atrás das grades que carrega consigo.
Eis por que tantos livros falam hoje de animais. Isso exprime a nostalgia de
uma vida livre, natural. Mas a vida natural, para os homens, é a vida de homem.
Contudo, ninguém vê isso. Ninguém quer ver. A existência humana é demasiado
penosa, por isso queremos nos livrar dela, ao menos pela imaginação. ...Bem
abrigados em meio ao rebanho, andamos nas ruas das cidades, para irmos juntos
ao trabalho, às manjedouras, aos prazeres. É uma vida precisamente delimitada,
como no escritório. Não há mais milagres, só há modos de emprego, formulários e
regulamentos. Tememos a liberdade e a responsabilidade. Por isso preferimos
sufocar atrás das grades que nós mesmos fabricamos.”
Franz Kafka
LIMITE
Livra-te
da condição humana
Do
teu semelhante danado
Que
por ganância engana
Do
amor que foi negado
Da
incompreensão que te profana
Acabe
com teu tormento
Procure
tua droga
Com
a classe dos perdidos
Ao
som da ópera majestosa
Dissolva
teus elementos
Não
lamentes pelos sórdidos
Tenha
a grande solução
Termine
teus sofrimentos
Acabe
a tua dor
Use
a dissolução
Tua
alma vai ao nada
Como
tua vida mutilada
Tua
amargura latente
Tendo
como escora a palavra
E
paraísos inexistentes
Vá
para o céu ou inferno
Para
o corredor dos desesperados
Ou
para o nada eterno
Mas
livra-te do que te dana
Da
podre condição humana.
Jaime
Baghá - - Pelas vezes, a procura da
intersubjetividade, “Entre quatro paredes” (Huis clos), como na peça de Sartre
vendo que “O inferno são os outros”.
Louis-Ferdinand Céline
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“Eu tinha visto coisas demais suspeitas
para estar feliz. Eu sabia demais e não sabia o suficiente. O que é pior é que
a gente fica pensando como que no dia seguinte vai encontrar força suficiente
para continuar a fazer o que fizemos na véspera e já há tanto tempo, onde é que
encontraremos força para essas providências imbecis, esses mil projetos que não
levam a nada, essas tentativas de sair da opressiva necessidade, tentativas que
sempre abortam, e todas elas para que a gente se convença uma vez mais que o
destino é invencível, que é preciso cair bem embaixo da muralha, toda noite,
com a angústia desse dia seguinte, sempre mais precário, mais sórdido. É a
idade também que está chegando talvez, a traidora, e nos ameaça com o pior. Já
não temos música dentro de nós para fazer a vida dançar, é isso. Toda a
juventude já foi morrer no fim do mundo no silêncio de verdade. E aonde ir lá
fora, pergunto a vocês, quando não temos mais em nós a soma suficiente de
delírio? A verdade é uma agonia que não acaba. A verdade deste mundo é a morte.
É preciso escolher, morrer ou mentir.”
Louis-Ferdinand Céline
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