José Saramago, escritor e poeta português |
A
CONFRARIA
Fiquei ali olhando o nada
Com vermes envolvidos em preces
Estranhos a minha espécie
Sublimando o que não me agrada
Fiquei ali, alhures, perdido
Entre fantasmas sociais
Como cipaios animais
Entre muitos, escondido.
Fiquei ali numa ficção
Olhando a xenofobia em ação
Na frialdade dos injustos
Que ventre produziu estranhos partos
De vermes obscuros e falsos
Como um soneto de Augusto.
Olhando a conjunção política-religião
da pequena província, lembrei-me de Augusto dos anjos.
Jaime Baghá
Durante toda a minha vida as pessoas mais inteligentes que
conheci não professavam doutrinas religiosas, e sempre demonstraram um caráter
de bondade, segurança, sabedoria e justiça. Em muitos religiosos vi a cobiça,
inveja, maldade e ignorância.
Vendo os anais da história sei que as piores guerras e as mais
sangrentas foram em nome de Deus, e é em nome dele que as guerras ainda
continuam, caso tivermos uma terceira guerra mundial, tudo nos leva a acreditar
que será também em nome de Deus.
Desde as pequenas províncias interioranas até o maior escalão
político do meu país eu vejo uma ascensão das bancadas religiosas, isto me
causa o temor de uma teocracia, do fanatismo e dos desentendimentos sociais,
desviando os caminhos de uma democracia.
Se existe um Deus onipotente, porque criou filhos desta natureza
e porque filhos desta natureza criaram Deuses para roubar e matar? Independente
do credo, toda a nossa sorte esta nas mãos dos homens e na sua cultura,
abominando todas as formas de ignorância. Deus, se alguém acredita, que sirva
só para consolar seus infernos interiores.
Sds. Jaime Baghá
Augusto dos Sanjos, poeta brasileiro |
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
VERSOS ÍNTIMOS
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
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