terça-feira, 21 de julho de 2009
FUNERAL
Eu via
Entre a fresta da janela
Da sala fria
O cortejo fúnebre
Num dia húmido
De tons lúgubres.
Eu ouvia
Os passos acompanhantes
Um chiar de sapatos
Em compassos andantes
Cabisbaixos no asfalto.
Eu sentia
O peso do ataúde
Na troca de mãos
Compassivos e rudes
Como numa prova
Levavam o féretro
A caminho da cova.
Eu ouvia
Por entre névoas
A marca do esquife
O sino em repique
Uma parada macabra.
Eu via
Pela frincha o sineiro
No campanário
Um quasímodo ordinário
Funesto
Suado
Controlando o badalo.
Eu sentia
O frio do inverno
O nada eterno
Eu ouvia
O sibilar da morte
Do alísio do norte
Eu não vejo
Céu ou inferno
Apenas
Um dia menor
A falta de sorte
Flores e lutos
No séquito da morte.
Jaime, inverno de 2009.
Aos funerais que eu observava pela fenda da janela na cidade do interior.
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