Dylan, Neil Young e Eric Clapton |
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The Last Waltz
Era uma época em que eu
tinha amadurecido um pouco, como jovem “estava por dentro” (como diziam na
época). Tinha refinado os gostos e vivia sob o embalo de boas músicas, na MPB,
além do pessoal mais conhecido, como Chico, Caetano, Gil e Elis, eu também
tinha um pé no Jazz e nos malditos, gostava muito de Jorge Mautner, do Arrigo
Barnabé e a banda Sabor de Veneno, do Itamar Assumpção e do Isca de Polícia.
Tinha certo cabedal com a cultura e pouca grana, uma mistura de “vagau” com
arte. Lia de Gabriel Garcia Márquez a Carlos Castaneda, autores marxistas,
revista do Harvey Kurtzman e achava que sacava os filmes do John Cassavetes.
Era noite de um inverno muito frio em Porto Alegre, sozinho fui ver um
filme documentário no Cine ABC, eu desci do ônibus na Praça Rui Barbosa e fui
até a Av. Venâncio Aires no bairro Cidade Baixa. O filme começava às 22 horas, era
um Avant Premiere, assim chamavam o lançamento de um filme, quando apresentavam
ao público antes de começar a passar em outros cinemas da cidade.
Fui ver The Last Waltz, um show histórico filmado por Martin Scorcese
(diretor de obras como Taxi Driver, dentre outros clássicos) e divulgado como
despedida final do The Band, ótima banda de rock com componentes
multi-instrumentistas, que deu apoio a muitos caras de qualidade da música
internacional, entre eles Bob Dylan. Dylan era o cara mais ousado da minha
geração, um poeta que cantava os hinos de uma época, de “Blowin In The Wind” a
“Like a Rolling Stone”, e muito sons que mudaram o comportamento e influenciou
uma geração de jovens de todo o mundo, e ídolos como Jimi Hendrix, Rolling
Stones e até os Beatles. Gente de peso, e também ídolos de uma geração como
Eric Clapton, Neil Young, Neil Diamond, Joni Mitchel, Von Morrison, Muddy
Waters e outros, que também estavam no filme de Scorcese.
Como dizia Dylan, “Não precisa de um homem do tempo para saber para que
lado sopra o vento”, e naquela noite o vento frio do inverno de Porto Alegre
soprava para o bairro Cidade Baixa, mais
precisamente para o Cine ABC e todos
estes caras estavam lá. Vi todos eles cantarem para mim numa tela gigantesca do cinema. Achava legal o Cine
ABC, cinema de gente cabeça, sem pipoca e sem refrigerante, só balinhas
azedinhas ou um chocolate Refeição da Neugebauer.
Fiquei extasiado com o pessoal de peso do rock e ver Bob Dylan cantando
no cinema, foi o máximo, “o maior barato” para um jovem lá da vila. Sempre
busquei resposta além do meu quarteirão e ainda procuro, sem me sucumbir. Na
saída, com fome, comi um cachorro quente, que cachorro gostoso, depois
encontrei alguns amigos que me convidaram para continuar o embalo na noite, mas
não me liguei, “fiquei na minha”, naquela noite, não estava a fim de ficar
naqueles papos regados a bebida e white widow.
Segui a passos pela cidade, num tempo que você podia andar nas noites de
P. Alegre, passava da meia noite. Caminhei pela Lima e Silva até o final,
dobrando a esquerda era a Rua Fernando Machado, a rua onde morava um amigo
(que conhecia uma amiga muito legal), tinha combinado com ele que iria dormir
lá depois do cinema. Não me perdi numa festa naquela noite, ainda era muito
novo, estava começando a desvendar os subterrâneos, conhecia cada quadra da
cidade baixa. Passo a passo, fui me lembrando do filme que tinha assistido e
sorria para mim mesmo, olhando as estrelas no céu no inverno de nossa cidade,
uma boina na cabeça e uma manta no pescoço, uma calça Lee surrada e
extremamente feliz, alegre, meu Porto Alegre.
Ao meu querido primo Wilmer que deu vida ao texto ao lembrar do filme.
Jaime Baghá
Fotos da época do "The Last Waltz"...
Jaime e Carmem |
Maneca, Jaime e Khan - Floripa, 1979 |
Jaime e Maneca - "Na estrada" |
Jaime e amigos: Fernando, Pedrão, Lucinha, Aurinha, Maneca - Acampados na serra gaúcha |
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