Mulher Chorando - Picasso |
É O ACORDAR QUE NOS MATA *
Quero meus sonhos
Esquizofrenias
Não a cura que limita
Que investiga minha razão.
Nada que me limite
Analise
Quero o que move a vida
Angustias
Anseios
O sublime
Meus sonhos e ilusão.
Quero o demasiado humano
O fracasso do pensamento
lúcido
A fantasia da imortalidade
Ceticismo
Meias verdades.
O que será de mim
Sem a minha loucura
Quero a minha luz
Meus escuro
Para poder estar vivo
Encontrar minhas procuras.
Jaime Baghá – numa luta entre
loucura e razão.
(*Virginia Woolf)
Fui ao analista, cheguei
atrasado, ele disse que eu estava com resistência
Cheguei antes da hora, ele
interpretou como ansiedade
Hoje cheguei pontualmente,
ele me chamou de obsessivo
Não entrei, dei meia volta e
fui para casa, ler Artaud e Baudelaire, triste por
te-lo deixado vivo.
“A natureza é um tempo onde
vivos pilares, deixam filtrar não raro insólitos enredos
O homem cruza em meio a um
bosque de segredos, que ali espreitam com seus olhos familiares.” Correspondência – As Flores do Mal – Charles Baudelaire.
Angústia - Edvard Munch |
Esta velha
angústia,
Esta angústia
que trago há séculos em mim,
Transbordou
da vasilha,
Em lágrimas,
em grandes imaginações,
Em sonhos em
estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes
emoções súbitas sem sentido nenhum.
Transbordou.
Mal sei como
conduzir-me na vida
Com este
mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos
endoidecesse deveras!
Mas não: é
este estar entre,
Este
quase,
Este poder
ser que...
Isto.
Um internado
num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um
internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a
frio,
Estou lúcido
e louco,
Estou alheio
a tudo e igual a todos:
Estou
dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não
são sonhos.
Estou
assim...
Pobre velha
casa da minha infância perdida!
Quem te diria
que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu
menino? Está maluco.
Que é de quem
dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está
maluco.
Quem de quem
fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.
Se ao menos
eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo,
por aquele manipanso
Que havia em
casa, lá nessa, trazido de África.
Era feíssimo,
era grotesco,
Mas havia
nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse
crer num manipanso qualquer —
Júpiter,
Jeová, a Humanidade —
Qualquer
serviria,
Pois o que é
tudo senão o que pensamos de tudo?
Estala,
coração de vidro pintado!
Álvaro de
Campos
"A loucura, longe de ser uma
anomalia, é a condição normal humana.
Não ter consciência dela, e
ela não ser grande, é ser homem normal.
Não ter consciência dela e
ela ser grande, é ser louco.
Ter consciência dela e ela
ser pequena é ser desiludido.
Ter consciência dela e ela
ser grande é ser gênio". Fernando Pessoa
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