domingo, 9 de outubro de 2011
EXTREM IDADE
Ele caminha pela casa escura
por entre corredores e cômodos escuros.
No criado mudo
assim como ele na inibição psíquica
suas camisas desbotadas
penduradas como em ganchos num açougue.
Olha seu reflexo na água do bacio
vê sua face
um rosto velho na casa escura
no interregno do pouco para o miserável.
Não ousa sair para o dia na rua
quer ficar olhando o nada
vendo seus quadros
seus antiquários
seus livros
seus filmes europeus
seus hebdomadários anarquistas
nos sarcófagos de madeiras tristes
assim como a cariátide do antigo relógio
olhando o nada.
Assim como ele
indo ao nada
se cuidando prá nada
se poupando prá nada.
Seus caminhos estão parando
na soleira da janela
nas folhas secas que caíram
do seu ipê amarelo.
Seu caminhar esta parado
sentado a beira da cama
olhando o velho baú
abarrotado de reminiscências.
Sombrio pensa em sair
para a luz
para o dia
porém cada vez mais
procura os labirintos
escuros dos aposentos.
Perdeu o prazer dos caminhos
na analogia do poeta
“caminante, no ai camino”.
Breve não caminhará mais
só olhará o breu de sua breve existência
até a luz apagar-se na fresta de sua mente
para por fim esta estrada longa
de caminhos curtos.
Quando começou a caminhar
a pensar
a ver
seus caminhos acabaram
dentro dos corredores escuros
da velha casa...
Sozinho...
Jaime, antes de tomar o remédio – inverno 2011
Para o meu Lódi querido que procura caminhos.
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Um comentário:
A clareza de pensamento projetou uma imagem nítida em minha mente. Muito bom!
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